Cerca de 70 mil pessoas transformaram as ruas de Belém em um grande palco de reivindicações socioambientais durante a Marcha Global pelo Clima, realizada neste sábado (15). O evento, organizado pela Cúpula dos Povos e COP das Baixadas, fez parte da programação da sociedade civil paralela à COP30.
Manifestação histórica sob calor intenso
A concentração começou por volta das 6h da manhã no Mercado de São Brás, onde centenas de ônibus, carros e táxis desembarcaram participantes de toda a região. Apesar dos termômetros marcarem 35 graus Celsius, os manifestantes percorreram cerca de 4,5 quilômetros carregando bandeiras de diversas causas ambientais e sociais.
Quem observava a cena de longe via um verdadeiro tapete humano, com elementos gigantes como um globo terrestre, cartazes coloridos, cobras simbólicas e grandes cabeças de ícones ambientalistas como Chico Mendes e Cacique Raoni. A diversidade cultural marcou o evento, que uniu desde povos indígenas até movimentos urbanos.
Ministras destacam importância da democracia
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, enalteceu o ambiente democrático visível nas ruas de Belém. "É muito bonito ver a democracia se expressando nas ruas, em um país que a duras penas conquistou e mantém a sua democracia", observou a ministra.
Marina Silva destacou que o Brasil já reduziu o desmatamento na Amazônia em 50%, mas afirmou que o compromisso do governo é chegar ao desmatamento zero. "Aqui é o lugar para a gente marcar para desenhar o mapa do caminho que precisa sair dessa COP rumo à transição do fim do desmatamento e do uso dos combustíveis fósseis", enfatizou.
A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, que acompanhava Marina Silva de mãos dadas, declarou: "Estamos aqui para dizer que basta de vivermos nessa emergência climática". Ela defendeu que a ONU precisa escutar as vozes que chegaram a Belém e destacou: "Aqui se torna, nesse momento, a Zona Azul da COP 30, onde se encontram os guardiões e as guardiãs da vida".
Reivindicações e críticas ao sistema
Os manifestantes foram unânimes em criticar o sistema capitalista e sua busca por lucro às custas da natureza e das culturas tradicionais. Na Amazônia, as denúncias se concentraram nos riscos de grandes projetos de infraestrutura, exploração de petróleo e grilagem de terras que, após o desmatamento, são convertidas em áreas de agropecuária.
O movimento indígena marchou com faixas dizendo "Não à mineração" e "demarcação já", reafirmando a urgência na proteção de seus territórios. A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) esteve presente com a campanha 'A resposta somos nós', reunindo lideranças de diversas etnias.
Durante a passeata, livros de autores renomados foram homenageados, incluindo 'Futuro Ancestral' de Ailton Krenak, 'Revolução das Plantas' do botânico italiano Stefano Mancuso e 'O Pacto da Branquitude' de Cida Bento.
Paz e simbolismo marcam o encerramento
A marcha, que durou aproximadamente três horas e meia, manteve-se pacífica durante todo o percurso, apesar do forte policiamento com batedores, carros blindados e helicópteros. O evento terminou na Aldeia Cabana, espaço simbólico que homenageia a Revolta da Cabanagem, coincidentemente no dia que marca também a Proclamação da República.
O recado final foi claro: soluções climáticas precisam sair do papel e reconhecer o protagonismo de quem historicamente preserva a Amazônia. Os manifestantes deixaram claro que não haverá justiça climática enquanto persistirem a violência nos territórios, a demora na demarcação de terras indígenas e a ausência de apoio às comunidades tradicionais.
A expectativa agora é que as vozes das ruas ecoem nas negociações da COP30, que continuam na próxima semana, gerando resultados concretos para o enfrentamento da crise climática global.