Era só mais um dia comum na Praia do Açu, até que o oceano resolveu mostrar quem manda. De repente, sem aviso, as ondas começaram a engolir tudo pela frente — areia, muros, e, pasmem, até casas inteiras. Os moradores, acostumados com o vai e vem das marés, nunca tinham visto nada parecido.
"A gente sempre soube que o mar estava chegando mais perto, mas isso aqui? Isso é de assustar", desabafa Dona Maria, de 62 anos, enquanto aponta para o que sobrou do seu quintal. A cena é de filme de desastre: móveis encharcados, paredes rachadas, e aquele cheio de sal que gruda na garganta.
O que está por trás dessa fúria toda?
Especialistas apontam o dedo para uma combinação perigosa: mudanças climáticas (óbvio), mas também a falta de ações preventivas. "Quando você mexe com o equilíbrio da natureza, ela devolve na mesma moeda — e com juros", explica o oceanógrafo Carlos Mendes, num tom que mistura preocupação com "eu avisei".
Enquanto isso, na prefeitura, a conversa é outra. Promessas de ajuda, estudos técnicos, burocracia... Enquanto os papéis rodam, as famílias ficam no limbo, sem saber se reconstroem ou se jogam a toalha e procuram outro lugar pra morar.
E agora, José?
Os moradores mais antigos contam que o mar sempre foi um vizinho difícil, mas nos últimos anos a coisa degringolou de vez. "Antes era só tirar a areia da porta de casa de vez em quando. Agora é correr pra não virar sereia", brinca o pescador João, com um humor negro que só quem vive na pele consegue entender.
- Mais de 15 residências já foram afetadas
- Área de risco aumentou 40% na última década
- Famílias temem perder tudo durante a próxima maré alta
O clima na comunidade é de tensão — e de uma certa revolta também. "A gente vê tanto dinheiro sendo gasto em bobagem, enquanto aqui a situação vai ficando crítica", desabafa uma moradora que preferiu não se identificar. Quem sabe agora, com a mídia batendo na porta, as coisas comecem a andar?
Uma coisa é certa: o mar não vai esperar. E os moradores da Praia do Açu estão aprendendo essa lição do jeito mais difícil possível.
