A voz dos povos da floresta ecoou com força nos corredores da COP30, graças a uma iniciativa inédita que garantiu participação massiva de lideranças indígenas e ribeirinhas nas discussões climáticas globais.
Expedição transformadora conecta Amazônia à COP30
O Banzeiro da Esperança encerrou suas atividades nesta quinta-feira (20) em Belém, após quase 20 dias de viagem pelos rios amazônicos. A expedição, organizada pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e parceiros, partiu de Manaus no início do mês com o objetivo claro: garantir representatividade histórica dos povos tradicionais nas negociações climáticas.
Para Izolena Garrido, vice-presidente da FAS, a experiência se consolidou como transformadora. "Essa vinda no Banzeiro da Esperança, com esse projeto feito a tantas mãos, oportunizou pela primeira vez a muitos a chance de estar numa COP, dar a oportunidade da voz deles, serem protagonistas", afirmou.
Ela descreveu o barco como um laboratório de conhecimento flutuante, onde diferentes territórios amazônicos trocaram experiências. "Tivemos muitas vozes potentes e tenho certeza de que cada um vai voltar transformado. Cuidar da floresta é cuidar de quem cuida dela", reforçou.
Projetos concretos e protagonismo indígena
Entre os participantes, Edson Kambeba, indígena do povo Kambeba de Coari (AM), foi selecionado para apresentar um plano de adaptação climática construído com sua comunidade. O processo começou meses antes da viagem, com oficinas e escutas em 34 comunidades e 50 localidades da região.
"Realizamos três dias de escuta, coletamos vídeos, áudios, transcrevemos tudo e construímos um projeto. Foram mais de 100 propostas e apenas dez foram selecionadas. Eu fui escolhido para trazer essa proposta aqui para a COP", contou Edson, para quem esta foi a primeira experiência em uma conferência climática global.
O projeto apresentado prevê ações concretas de educação ambiental, monitoramento comunitário, formação de agentes ambientais e comunicadores, além de equipamentos para combater pesca ilegal. "Nós somos a resposta para o problema climático, não fomos nós que causamos", declarou com convicção.
Missão cumprida e legado permanente
Enock Ventura, supervisor de projetos da FAS e responsável pela formação dos Guardiões da Floresta durante a expedição, afirmou que o encerramento deixa a equipe com sensação de dever cumprido.
"O sentimento é de gratidão. Eles confiaram na gente, deixaram suas casas por quase um mês, e estamos voltando com a sensação de que deu tudo certo", disse Ventura, destacando que o principal objetivo foi alcançado: ampliar a visibilidade da voz dos povos da floresta.
A consolidação do legote foi marcada pela entrega de uma carta com reivindicações ao presidente-designado da COP30 e pela apresentação de soluções reais para a crise climática desenvolvidas pelas próprias comunidades.
Izolena Garrido garantiu que a iniciativa deve se tornar permanente: "Tenho certeza que vai virar um grande programa de conexão de povos da floresta através das águas e das pessoas". O Banzeiro da Esperança terminou em clima de celebração, com show cultural de Éder do Acordeon em Belém, coroando uma jornada histórica de protagonismo amazônico.