Carta dos Guardiões da Amazônia leva demandas à COP30 após expedição fluvial
Guardiões da Amazônia apresentam carta à COP30

Documento histórico é finalizado durante expedição fluvial

As vozes dos povos da floresta amazônica se uniram em um documento histórico que promove mudanças nas discussões sobre o clima global. A Carta da Aliança dos Povos Guardiões da Amazônia foi concluída nesta segunda-feira, dia 10 de junho, marcando o fim de uma jornada significativa pelo rio Amazonas.

A expedição, batizada de Banzeiro da Esperança, transportou lideranças tradicionais entre Manaus, no Amazonas, e Belém, no Pará, criando um espaço único de diálogo e construção coletiva. O documento representa as demandas e soluções de comunidades indígenas, ribeirinhas e quilombolas para o enfrentamento da crise climática.

Processo colaborativo fortalece união dos povos

Originalmente intitulado Carta da Amazônia, o documento passou por uma transformação significativa durante as discussões. As lideranças optaram por mudar o nome para Carta da Aliança dos Povos Guardiões da Amazônia, buscando enfatizar a união entre os diferentes grupos que habitam a floresta e seu papel fundamental na proteção do bioma.

Durante os dias de viagem, as conversas abordaram temas cruciais como os impactos ambientais nos territórios, ameaças aos modos de vida tradicionais e estratégias sustentáveis de manejo. Os debates destacaram consistentemente a importância dos conhecimentos ancestrais e comunitários na preservação da floresta.

Na noite de sexta-feira, dia 7 de junho, os participantes responderam a cinco perguntas norteadoras propostas pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e pela Virada Sustentável:

  • O que eu espero de resultado da COP 30?
  • O que me faz ter esperança?
  • Como gostaria de ser visto pelo mundo?
  • Como eu, guardião da floresta, sinto a crise climática no território?
  • Como os nossos saberes são as respostas para a crise climática?

Metodologia garinte participação ampla

Enock Ventura, supervisor de projetos da FAS, explicou que a carta foi construída através de uma dinâmica colaborativa e participativa. Os envolvidos foram divididos em grupos que circularam por diferentes estações de debate, garantindo que todas as perspectivas fossem consideradas.

As perguntas serviam como um ponto de partida. Cada grupo acrescentava sua vivência, sua leitura do território e suas propostas, afirmou Ventura. No final, os próprios guardiões se reuniram para sintetizar tudo em texto. A carta é feita 100% a partir dos saberes deles.

Ventura, que também é ribeirinho, destacou a dimensão emocional do processo: É muito gratificante ver que temos espaço e relevância. É emocionante ver tanta ancestralidade, conhecimento e força reunidos.

Juventude indígena assume protagonismo

A leitura final do documento histórico ficou a cargo do jovem indígena Estélio Lopes Cardoso, do povo Munduruku, da Terra Indígena Kwatá-Laranjal, em Borba (AM). O momento simbolizou a transmissão de conhecimentos entre gerações e o papel crescente da juventude nas lutas ambientais.

Indígenas, ribeirinhas e quilombolas construíram essa carta juntos, com muito cuidado para que todas as vozes estivessem nela, declarou Estélio. Nós pautamos muito a questão da gestão e do financiamento direto para projetos de enfrentamento à crise climática. Cada povo apresentou suas necessidades reais.

Entre as propostas concretas apresentadas no documento estão:

  • Sistemas de irrigação para agricultura familiar
  • Transporte comunitário nos rios
  • Escola de formação para jovens indígenas do Amazonas

Estélio enfatizou a importância do acesso direto a financiamentos para as comunidades: A gente quer que os financiamentos cheguem direto nas comunidades. Só assim as políticas públicas chegam onde precisam chegar.

Sobre a honra de realizar a leitura final da carta, o jovem Munduruku expressou: É uma grande responsabilidade representar meu povo e a juventude Munduruku. Eu sinto que estamos fazendo história.

Próximos passos e expectativas

O documento finalizado será entregue nesta terça-feira, dia 11 de junho, ao presidente-designado da COP30, André Corrêa do Lago. A expectativa é que as demandas dos povos tradicionais influenciem diretamente as discussões da conferência climática que ocorrerá em Belém.

Ventura resumiu o significado profundo do documento: A carta é o grito da Amazônia. É o grito de quem vive aqui dizendo que existimos e que temos soluções. Os conhecimentos ancestrais já mostram como viver em harmonia com a natureza, e queremos mostrar isso ao mundo.

A expedição Banzeiro da Esperança e a Carta da Aliança dos Povos Guardiões da Amazônia representam um marco importante no reconhecimento dos saberes tradicionais como elementos essenciais na busca por soluções para a crise climática global.