
Parece cena de filme de ficção científica, mas é a pura realidade — e bem aqui no nosso quintal. O Rio Tietê, que já foi cartão postal, hoje exibe uma paisagem que mais parece um pesadelo ambiental. Em Salto, a espuma branca voltou com tudo, cobrindo a superfície da água como se fosse uma nevasca artificial.
Quem passa pela Ponte Pênsil nem acredita no que vê. A espuma se acumula de forma assustadora, formando montanhas brancas que chegam a ultrapassar um metro de altura. E o pior: isso não é novidade. É a terceira vez só este ano que o fenômeno aparece, mostrando que o problema está longe de ser resolvido.
O que explica essa "neve" poluente?
Bom, a explicação é simples — e triste. A espuma aparece quando há uma combinação perfeita para o desastre: detergentes e outros produtos de limpeza lançados nos esgotos, somados a períodos de seca. Com pouca água no rio, a concentração desses poluentes aumenta drasticamente.
Quando a água se agita — seja por vento, chuvas ou mesmo pelo movimento natural do rio — forma-se essa espuma branca que parece inocente, mas esconde perigos reais. A Sabesp, responsável pelo tratamento de esgoto, reconhece o problema mas diz que a situação é complexa.
Perigo à vista — e ao nariz
O cheiro é forte, característico, e fica impregnado no ar. Mas os riscos vão além do incômodo. A espuma pode causar:
- Problemas respiratórios sérios
- Irritação na pele e nos olhos
- Reações alérgicas em pessoas sensíveis
- Intoxicação se houver contato prolongado
E não são só os humanos que sofrem. A vida aquática praticamente desaparece nessas condições. Os peixes que ainda resistem no Tietê enfrentam mais essa ameaça à sua sobrevivência.
Moradores: entre a preocupação e a revolta
"É desanimador", desabafa um morador que preferiu não se identificar. "A gente vê esse rio morrendo aos poucos e parece que nada muda." A sensação de impotência é geral entre quem vive perto do Tietê.
Outros residentes relatam que aprenderam a conviver com o problema — uma adaptação triste, mas necessária. Nos dias de espuma intensa, evitam passar pela região, principalmente com crianças e idosos.
O que mais preocupa, na verdade, é a repetição. Todo mundo já sabe o script: a espuma aparece, vira notícia, some depois de alguns dias... e retorna algumas semanas ou meses depois. Um ciclo vicioso que ninguém consegue — ou quer — quebrar.
Existe solução?
Especialistas apontam que a resposta está no tratamento adequado do esgoto. A Sabesp afirma que 99% da cidade de Salto é atendida por coleta e tratamento — mas claramente algo ainda está falhando.
Parte do problema, suspeitam ambientalistas, está nos chamados "furtos de esgoto": conexões irregulares que despejam detritos diretamente no rio, sem passar pelas estações de tratamento. É como tentar encher um balde furado — o trabalho nunca termina.
Enquanto isso, o Tietê continua sua luta silenciosa — ou nem tão silenciosa assim, considerando a espuma que grita por atenção. A paisagem branca pode até dar fotos impressionantes, mas conta uma história de descaso que já dura décadas.
Restam as perguntas: até quando? Quantas vezes mais vamos ver essa cena se repetir? O rio espera por respostas — e por ações.