
Imagine abrir o celular e se deparar com um vídeo que mais parece uma cena de filme B: uma montanha de espuma branca, daquelas bem densas, invadindo uma instalação que, pasme, trata a água que milhões de pessoas bebem. Pois é. Foi exatamente isso que começou a circular nas redes sociais neste domingo (25), e a tal instalação é nada menos que a Estação de Tratamento de Água do Guandu, administrada pela Cedae – a maior do planeta, diga-se.
O material, que obviamente viralizou num piscar de olhos, mostra a espuma – que lembra muito aquela de extintor de incêndio, só que em quantidade absurda – cobrindo boa parte de uma unidade de tratamento de rios dentro do complexo. A cena é, no mínimo, surreal. E assustadora.
A explicação (ou a tentativa dela)
Questionada sobre o fato, a Cedae saiu com um comunicado tentando acalmar os ânimos. A empresa afirmou, com todas as letras, que a tal espuma é um fenômeno «natural e recorrente». Sim, natural. Eles explicam que isso acontece por causa da «grande vazão» do Rio Guandu e da «elevada concentração de matéria orgânica» na água. Basicamente, quando a água passa pelas comportas com muita força, ela se agita e forma essa espuma. Eles foram além e garantiram que isso não interfere, repito, não interfere na qualidade do tratamento da água.
Mas é claro que ninguém fica tranquilo vendo uma coisa daquelas. A estação do Guandu é responsável por abastecer quase toda a Região Metropolitana do Rio. São cerca de 9 milhões de pessoas dependendo daquela água. Aí você vê um mar de espuma e ouve um «é normal». Desculpe, mas soa um pouco… estranho.
E agora, José?
Apesar das garantias da Cedae, o buraco é mais embaixo. Especialistas em recursos hídricos que acompanham a Baía de Guanabara há anos costumam levantar a sobrancelha para esse tipo de fenômeno. Eles lembram que, embora a agitação da água realmente possa causar espuma, uma formação tão exacerbada assim frequentemente está atrelada à presença de detergentes ou outros poluentes orgânicos na água. Não é algo que se descarte com um simples «é natural».
O pano de fundo aqui é velho conhecido dos cariocas: a histórica e crônica poluição dos corpos hídricos que alimentam o sistema, notadamente o Rio Paraíba do Sul. É um problema que vem de décadas e que, claramente, ainda não foi resolvido.
O pior de tudo? A Cedae informou que a espuma não afetou – desta vez – a operação da estação. A água continuou sendo tratada e distribuída normalmente. Mas fica aquele pé atrás, aquela pulga atrás da orelha. Será que é só espuma mesmo? Até quando confiaremos cegamente? Perguntas que, diante de um vídeo desses, ficam ecoando na cabeça de qualquer um.