Um alerta sobre os riscos econômicos do desmatamento foi emitido pela organização CDP, especialista em transparência ambiental corporativa. O relatório global revela que empresas e instituições financeiras estão subestimando dramaticamente os impactos financeiros da destruição das florestas.
Buraco de US$ 279 bilhões em riscos não contabilizados
As empresas que reportaram dados ambientais identificaram mais de 1.200 riscos relevantes ligados à perda florestal. No entanto, menos da metade quantificou o impacto financeiro dessas ameaças. A CDP estima que o valor real chega a US$ 279 bilhões, um valor 3,6 vezes maior do que o reportado oficialmente.
Esta cifra alarmante representa apenas os riscos já reconhecidos pelas próprias empresas. A exposição total da economia global pode ser muito mais significativa, segundo os analistas.
Agronegócio lidera dependência florestal
A indústria de alimentos, bebidas e agricultura aparece como a mais vulnerável. Empresas deste setor afirmam que 76% de sua receita depende de commodities diretamente associadas ao desmatamento, incluindo:
- Soja
- Gado
- Óleo de palma
- Cacau
- Café
Mas a dependência não para no agronegócio. Setores como manufatura, materiais, varejo, saúde e transporte reportam níveis de exposição entre 45% e 55%. A destruição florestal afeta cadeias globais muito além da produção agrícola.
Um dado preocupante: entre as 1.623 empresas que produzem ou compram commodities críticas, aproximadamente 30% desconhecem qual parcela de sua receita depende desses produtos.
Instituições financeiras no escuro
A situação é ainda mais grave no setor financeiro. Entre os bancos, seguradoras e gestoras de ativos que responderam ao questionário da CDP, 129 instituições, responsáveis por US$ 30 trilhões em ativos, afirmaram não saber se financiam empresas ligadas ao desmatamento.
Nos portfólios de investimentos e seguros, cerca de 50% da exposição ao risco florestal é desconhecida. Nos empréstimos, o índice é de 38%, um pouco menor porque bancos mantêm relações diretas com clientes empresariais.
Caso concreto: Hershey e a crise do cacau
O relatório cita o exemplo recente da Hershey. Em 2025, a agência Moody's rebaixou a perspectiva da companhia para negativa após uma disparada no preço do cacau. O aumento foi consequência de eventos climáticos extremos e da degradação de florestas na África Ocidental.
Os custos elevados pressionaram margens, aumentaram o endividamento e provocaram volatilidade para fundos expostos ao setor. A CDP alerta que este tipo de efeito deve se multiplicar com a intensificação de eventos climáticos extremos.
Serviços ecossistêmicos em risco
As florestas fornecem serviços essenciais para a economia global, incluindo:
- Estoque de carbono
- Regulação do regime de chuvas
- Manutenção da qualidade da água
- Prevenção de desastres naturais
O Boston Consulting Group avalia esses serviços ecossistêmicos em US$ 150 trilhões. A perda florestal acelera o aquecimento global, reduz a evapotranspiração e altera padrões de chuva, contribuindo para secas severas.
No Brasil, estudos mostram queda na geração de energia em áreas afetadas pelo desmatamento na Amazônia, demonstrando como as consequências já são realidade.
Recomendações para reduzir riscos
Para enfrentar este "apagão informacional", a CDP recomenda que empresas e instituições financeiras adotem avaliações abrangentes de dependências, impactos, riscos e oportunidades (análises DIRO). Esta abordagem permitiria:
- Antecipar choques econômicos
- Melhorar a rastreabilidade de produtos
- Fundamentar políticas públicas mais eficazes
Sem dados transparentes, o sistema financeiro continuará exposto a riscos massivos e mal dimensionados, enquanto o colapso de ecossistemas críticos avança em ritmo acelerado.
O estudo da CDP, atualizado em 19 de novembro de 2025, serve como alerta urgente para que o setor financeiro comece a tratar o desmatamento como risco econômico concreto, e não apenas como problema reputacional.