A Conferência do Clima das Nações Unidas, COP30, que acontece em Belém, está sendo marcada por uma participação popular sem precedentes na história do evento. A escolha da capital paraense como sede favoreceu a presença de comunidades locais que tradicionalmente ficavam à margem dos debates e reivindicações ambientais.
Protestos simbólicos contra agrotóxicos
Nesta quinta-feira, 20 de novembro de 2025, um grupo de manifestantes realizou um protesto significativo na Agrizone, espaço organizado pela Embrapa e pelo governo para reunir empresas do agronegócio. Vestidos como agentes pulverizadores, os ativistas fizeram um ato simbólico contra os agrotóxicos, exibindo cartazes com a afirmação impactante: "70% dos agrotóxicos são usados no Cerrado".
Esta manifestação representou apenas uma das várias ações que vêm movimentando a COP30 em Belém. A prática de uso intensivo de agrotóxicos no Cerrado tem impactos diretos tanto no meio ambiente quanto nas comunidades locais que dependem dos recursos naturais da região.
Participação recorde e diversidade de vozes
Especialistas ambientais e o próprio governo classificaram a ampla participação popular como um grande avanço para as discussões climáticas. A conferência reuniu aproximadamente 50 mil pessoas, com destaque para a forte presença de representantes de comunidades tradicionais, agricultores familiares, pesquisadores, empreendedores sustentáveis e lideranças comunitárias e religiosas.
Renata Franco, advogada especializada em direito ambiental e participante assídua das COPs, confirmou à VEJA: "O evento contou com uma participação popular que não tinha visto em nenhuma das outras edições". Segundo ela, essa diversidade de vozes compensou um início marcado por um número de chefes de Estado abaixo do esperado, que inicialmente poderia ter esvaziado a importância do evento.
Resultados concretos da mobilização
Dessa mobilização social organizada resultou a Declaração Final entregue à presidência da conferência. O documento histórico reúne propostas do Fórum Interconselhos e dos Fóruns da Amazônia para o enfrentamento da crise climática e para uma transição ecológica justa.
O evento também contou com a Cúpula dos Povos, um dos principais espaços de mobilização que reuniu a sociedade civil para discutir e apresentar demandas, frequentemente cobrando maior inclusão nas decisões oficiais.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a definir a COP30 como "a primeira COP do povo do mundo inteiro". Essa característica chegou a incomodar a Organização das Nações Unidas, que não estava preparada para manifestações que, mesmo pacíficas, romperam protocolos oficiais estabelecidos.
