COP30 se estende sem acordo sobre redução de combustíveis fósseis
A Conferência do Clima da ONU (COP30) em Belém ultrapassou seu prazo oficial de encerramento nesta sexta-feira (21) sem que os países participantes conseguissem chegar a um consenso sobre os pontos mais críticos das negociações. As discussões continuaram durante a noite enquanto representantes de nações de todo o mundo tentavam superar impasses fundamentais.
Rascunhos omitem temas cruciais
Os primeiros esboços do acordo final começaram a circular nas plataformas da ONU por volta das 3h da manhã, revelando uma ausência significativa de compromissos concretos com a redução do uso de combustíveis fósseis. Nenhum dos documentos iniciais mencionava um mapa do caminho claro com metas e prazos específicos para que os países diminuam sua dependência de petróleo e carvão - justamente os combustíveis cuja queima mais contribui para o aquecimento global.
Um dos trechos mais relevantes dos rascunhos afirmava genericamente que "Reconhece que a transição global rumo a baixas emissões de gases de efeito estufa e ao modelo de desenvolvimento favorável ao clima é irreversível e representa a tendência do futuro". Entretanto, especialistas e representantes de nações em desenvolvimento consideraram a linguagem excessivamente branda e insuficiente para enfrentar a emergência climática.
Financiamento climático gera divisão
O documento também mostrou-se ambiguo em relação ao financiamento necessário para que países mais pobres possam se adaptar às mudanças climáticas e eventos extremos. Enquanto o texto propõe duplicar os recursos disponíveis, o grupo de negociadores africanos vinha defendendo a triplicação desses valores.
Outra crítica significativa foi a falta de especificação sobre quais nações seriam responsáveis por fornecer esses fundos, deixando uma lacuna crucial na implementação prática do acordo.
Reações de decepção
A ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Irene Vélez Torres, expressou claramente sua insatisfação em entrevista à GloboNews: "Tivemos uma grande decepção ao conhecer esse texto, já que ele exclui dois temas absolutamente relevantes para o Sul Global: o primeiro, o mapa do caminho para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis; e, em segundo lugar, um mecanismo de transparência do financiamento para os países do Sul".
O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, reconheceu as dificuldades ao afirmar ainda pela manhã que buscava "um ponto de equilíbrio entre as diferentes posições dos grupos negociadores". Ele previu um "longuíssimo dia" de discussões, confirmando-se pelas negociações que se estenderam pela noite.
Organização em grupos negociadores
Para tentar agilizar as decisões, os países se organizaram em grupos de interesse comum. Na tarde de sexta-feira, representantes dos principais blocos se reuniram na sala da presidência da COP justamente para debater um dos assuntos mais divisivos: a criação de um roteiro concreto para uma economia menos dependente de combustíveis fósseis.
Incidente do incêndio
Enquanto as negociações se intensificavam, os preparativos para o encerramento da conferência já estavam em andamento. Estandes eram desmontados e equipamentos como bebedouros eram retirados do pavilhão principal.
A área afetada pelo incêndio de quinta-feira (20) permanecia fechada para investigação. Segundo o Ministério da Saúde, não houve registro de feridos por queimaduras, mas 27 participantes da conferência apresentaram problemas relacionados à inalação de fumaça ou crises de ansiedade. Desses, 21 já receberam alta do atendimento médico.
A Polícia Federal informou que peritos especializados em incêndios foram enviados a Belém para finalizar o laudo sobre as causas do incidente.
Balanço da conferência
A COP30 contou com a participação de 195 países e mais de 42 mil participantes, conforme dados do Ministério do Turismo. A dimensão do evento contrasta com as dificuldades enfrentadas nas negociações finais, evidenciando os desafios persistentes na construção de consensos globais sobre mudanças climáticas.
Enquanto os trabalhos continuam durante a noite, a comunidade internacional aguarda para ver se será possível alcançar um acordo que realmente responda à urgência da crise climática, especialmente no que diz respeito à redução efetiva do uso de combustíveis fósseis e ao financiamento adequado para as nações mais vulneráveis.