A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, encerrou os trabalhos da COP30 neste sábado (22) com uma avaliação mista: houve avanços relevantes, mas insuficientes para a emergência climática global. O discurso final ocorreu na plenária em Belém, onde a ministra recebeu uma ovação de pé dos participantes da Conferência do Clima.
Resultados abaixo das expectativas históricas
Em seu pronunciamento, Marina Silva fez uma reflexão histórica ao comparar as conquistas da COP30 com as ambições da Rio-92, realizada há três décadas. Segundo ela, os negociadores daquela época "sonhavam com muito mais resultados" e esperavam uma transformação ambiental mais rápida e baseada na ciência.
A ministra confirmou que temas centrais não conseguiram entrar nas decisões oficiais devido à falta de consenso entre os países. Entre os pontos mais sensíveis estavam:
- O "mapa do caminho" para deter o desmatamento
- Planos para transição energética longe dos combustíveis fósseis
Roadmaps brasileiros como alternativa
Mesmo com a exclusão desses temas do texto final, Marina Silva anunciou que a Presidência brasileira da conferência vai elaborar dois roadmaps próprios. Os documentos serão:
- Um plano para deter e reverter o desmatamento
- Uma estratégia para transição "justa, ordenada e equitativa" dos combustíveis fósseis
Segundo a ministra, ambos os documentos serão ancorados na ciência e construídos de forma inclusiva, mesmo sem o respaldo formal de todos os países participantes.
Conquistas simbólicas e operacionais
Marina Silva destacou vários avanços alcançados durante a COP30, especialmente pelo fato de a conferência ter sido realizada "no coração da Amazônia". Entre os pontos positivos, ela mencionou:
Maior inclusão de povos indígenas e comunidades tradicionais nas negociações sobre transição justa, representando um progresso político significativo.
O lançamento do Tropical Forests Forever Facility (TFFF), mecanismo destinado a valorizar economicamente a conservação das florestas tropicais.
O compromisso de países desenvolvidos em triplicar o financiamento para adaptação até 2035, incorporado no texto do Mutirão Global.
A criação do Acelerador Global de Implementação, voltado para reduzir a lacuna entre as metas nacionais (NDCs) e as políticas concretas de desenvolvimento.
122 países apresentaram novas NDCs com metas de redução de emissões até 2035, um resultado que Marina classificou como "fundamental para o multilateralismo climático".
Adaptação e o desafio de 1,5°C
A ministra reconheceu progressos na área de adaptação, com a definição inédita de indicadores globais. No entanto, alertou que esses instrumentos precisarão ser aprimorados para que os países possam cumprir a missão de manter o aquecimento global dentro de 1,5°C - compromisso reafirmado na COP28, em Dubai.
"Progredimos, ainda que modestamente", declarou Marina Silva, reforçando que o ritmo atual ainda não corresponde à urgência da crise climática.
Ao final de seu discurso, a ministra defendeu a persistência das negociações multilaterais, destacando a continuidade entre a Rio-92 e os esforços diplomáticos atuais. Ela agradeceu às delegações internacionais pela presença em Belém, afirmando que o Brasil as recebeu como "gesto de amor à humanidade e ao equilíbrio do planeta".
Após uma madrugada de intensas negociações, o texto da Declaração Final da COP30 foi publicado no final da manhã deste sábado, marcando o encerramento oficial dos trabalhos.