Um incêndio no Pavilhão dos Países paralisou completamente as atividades da COP30 nesta quinta-feira em Belém, interrompendo negociações cruciais sobre o futuro dos combustíveis fósseis no planeta. O incidente ocorreu em um dos momentos mais delicados da conferência, quando as esperanças diminuíam para um acordo ambicioso sobre a transição energética.
Incêndio interrompe negociações climáticas
O fogo começou no início da tarde no coração da Blue Zone, área administrada pela ONU onde ocorrem as negociações oficiais. Mais de 20 pessoas precisaram de atendimento médico após o incidente, embora as chamas tenham sido controladas em aproximadamente seis minutos. A evacuação obrigatória suspendeu toda a programação do dia, incluindo discussões críticas sobre financiamento climático e o futuro dos combustíveis fósseis.
Imagens mostram equipes de segurança e participantes usando extintores para conter as chamas enquanto fumaça tomava conta dos corredores principais do pavilhão. A organização da COP e a ONU afirmaram que o incidente foi rapidamente controlado, mas o prejuízo ao cronograma de negociações foi significativo.
Impasse sobre combustíveis fósseis preocupa
Antes do incêndio, as expectativas já diminuíam para o rascunho do chamado "mutirão" climático. O texto preparado pelo Brasil pode sair sem qualquer referência ao roteiro para abandonar os combustíveis fósseis, mesmo após um pedido firme de aproximadamente 80 países.
O presidente da COP já reconheceu publicamente a resistência de um grupo de nações, identificado como LMDC (Like-Minded Developing Countries). Este bloco, que inclui China, Índia, Arábia Saudita e outros países em desenvolvimento, defende que as nações ricas assumam a maior parte do esforço de cortes de emissões e que países em desenvolvimento mantenham autonomia sobre seu ritmo de transição energética.
Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, alertou sobre os riscos: "Não é admissível que um pequeno grupo de países bloqueie o que já é a vontade da maioria. Sem essa reviravolta, corremos o risco de entregar ao mundo uma COP incapaz de fazer o básico".
México anuncia meta climática ambiciosa
Em meio às tensões, o México surgiu como uma luz de esperança ao apresentar sua nova NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada). O plano está sendo considerado um dos compromissos mais ambiciosos já feitos por um grande emissor nesta rodada global de negociações.
Pela primeira vez, o país estabeleceu um teto absoluto de emissões para 2035, cobrindo todos os gases de efeito estufa e todos os setores da economia. A meta é reduzir as emissões de aproximadamente 820 MtCO₂e (toneladas de carbono equivalente) para entre 364 e 404 MtCO₂e - o que significa cortar pela metade o que o país emitiria se mantivesse o ritmo atual.
Se receber apoio internacional, o México promete ir ainda mais longe, chegando a 332-363 MtCO₂e. O plano também inclui, pela primeira vez, um capítulo sobre perdas e danos, reforça metas de energias renováveis e coloca gênero e direitos humanos no centro da estratégia climática.
Outros destaques do dia
Antes do incêndio, o secretário-geral da ONU, António Guterres, colocou o tema da adaptação no centro das atenções. Pela primeira vez, ele apoiou abertamente a ideia de triplicar o financiamento para adaptação até 2030, chegando a US$ 120 bilhões - exatamente o que os países mais pobres vinham pedindo há meses.
Atualmente, o mundo destina apenas US$ 26 bilhões para adaptação climática, quando precisaria de pelo menos 12 vezes mais até 2035. Guterres fez um apelo forte para que todas as delegações mostrem "vontade e flexibilidade para transmitir resultados que protejam as pessoas e mantenham o limite de 1,5ºC".
O "Fóssil do Dia", prêmio simbólico concedido pela Climate Action Network para os países que menos colaboram nas negociações, foi cancelado devido à paralisação causada pelo incêndio. Entretanto, ao longo da semana, União Europeia, Arábia Saudita, Canadá e Nova Zelândia já haviam recebido a distinção negativa.
Enquanto isso, uma escultura do ex-presidente americano Donald Trump como "Deus da Injustiça" chamava atenção na entrada da Blue Zone. A obra do artista dinamarquês Jens Galschiøt mostra Trump sentado nos ombros de um homem sobrecarregado, segurando uma balança e um taco de golfe - uma referência crítica à retirada dos EUA do Acordo de Paris durante seu governo.