A Conferência do Clima da ONU, realizada em Belém, no Pará, chegou ao fim neste sábado, 22 de novembro de 2025, com um texto político final que deixou de fora decisões importantes sobre combustíveis fósseis e desmatamento. Após uma sessão plenária que se estendeu por toda a tarde, os representantes dos países aprovaram o documento intitulado "Decisão do Mutirão", que aborda temas sensíveis, mas adia medidas concretas para enfrentar as principais causas das mudanças climáticas.
O que ficou de fora do acordo final
O texto final da COP30 não incluiu a proposta brasileira de criar um plano para o fim gradual do uso de combustíveis fósseis. O acordo apenas reafirma compromissos já assumidos em conferências anteriores, representando um revés para o presidente Lula, que havia colocado grande empenho nessa iniciativa.
Outra ausência significativa foi a falta de qualquer menção a um plano para zerar a devastação das florestas tropicais. O documento apenas menciona a importância de conservar a natureza e conter o desmatamento, sem estabelecer metas ou prazos concretos. Esta era uma das maiores expectativas quando a conferência foi anunciada para Belém, no coração da Amazônia.
Mecanismos voluntários e adiamentos
O texto lança um mecanismo chamado "Acelerador Global de Implementação", uma iniciativa voluntária e colaborativa para acelerar a adoção de medidas contra as mudanças climáticas. No entanto, não define metas mandatórias para cumprir os objetivos do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global em 1,5 graus.
No tema de medidas de comércio, a decisão apenas pede cooperação entre os países por um sistema econômico sustentável e adia qualquer diálogo mais aprofundado sobre o assunto para junho de 2026. As discussões sobre financiamento para adaptação também sofreram retrocessos, com o texto conclamando esforços para triplicar os recursos até 2035, em vez de 2030 como propunha a versão inicial.
Indicadores de adaptação aprovados
Um dos avanços concretos da conferência foi a aprovação dos Indicadores Globais de Adaptação (GGA), que permitirão mensurar as ações tomadas para mitigar os efeitos do aquecimento do planeta. As delegações reduziram mais de 9.000 itens para 58 indicadores.
O texto explicitou que os GGA são voluntários, não prescritivos e não punitivos, respeitando a soberania nacional e as circunstâncias de cada país. Além disso, os indicadores não podem ser usados como condição para que países em desenvolvimento acessem financiamento climático.
Repercussão e participação popular
André Correa do Lago, presidente da COP30, afirmou que a questão do financiamento é o principal legado da conferência. Já Ana Toni, CEO da COP30, comemorou o fato de os países terem concordado em aumentar os recursos para financiamento em adaptação climática e transição justa.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, recebeu aplausos de pé das delegações internacionais em seu discurso de encerramento, onde destacou: "Apesar dos atrasos, das contradições e das disputas, há uma continuidade entre aquela ambição da Rio-92 e o esforço presente".
Um dos grandes destaques da COP30 foi a participação popular recorde. Pela Green Zone, espaço reservado à sociedade civil, passaram 294.000 pessoas. Já a Blue Zone, onde ocorreram as negociações oficiais, recebeu 42.000 participantes ao longo das duas semanas do evento, com pico de 23.000 pessoas circulando simultaneamente.
Simon Stiell, secretário executivo de Mudanças Climáticas da ONU, reconheceu que "a COP30 ocorreu em águas políticas turbulentas", mas afirmou que a conferência mostrou que a cooperação climática está viva, mantendo a humanidade na luta por um planeta habitável.