Os rascunhos dos textos divulgados pela presidência da COP30 desencadearam uma forte reação negativa de cientistas, entidades ambientalistas e representantes de diversos países. O documento, revelado às 3h da manhã, foi considerado insatisfatório por múltiplos grupos envolvidos nas negociações climáticas.
Reação Imediata das Delegações
Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima, expressou a insatisfação geral: "Todo mundo ficou descontente com o texto que a gente viu hoje de manhã". Ela explicou que versões anteriores tentavam equilibrar diferentes posicionamentos, enquanto a atual adotava posições consideradas "linhas vermelhas para todos os países".
A ausência de um plano claro para reduzir e eliminar o uso de combustíveis fósseis - carvão, petróleo e gás - se tornou o ponto mais criticado do documento. Carlos Nobre, copresidente do Painel Científico para a Amazônia, foi enfático: "É inaceitável. Tem que ter uma menção muito clara nessa COP à super redução dos combustíveis fósseis".
Posicionamento dos Países
Um grupo de 30 nações, incluindo Alemanha, França e Colômbia, declarou publicamente que não assinará o documento final sem a inclusão de um "mapa do caminho" para o afastamento progressivo do petróleo. A ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Irene Vélez Torres, destacou a injustiça climática: "Somos os menos responsáveis por esta crise, somos os que têm menos recursos para se adaptar".
As negociações durante a sexta-feira foram particularmente tensas, com a formação de dois blocos claramente definidos. Maria da Graça Carvalho, ministra do Meio Ambiente de Portugal, explicou a divisão: "Temos um grupo de países constituídos por União Europeia, países da América Latina e pequenos estados insulares mais o Reino Unido, Canadá, Austrália que lideram no sentido de ser mais ambiciosos na redução de emissões".
O Outro Lado da Moeda
O bloco opositor, conforme a ministra portuguesa, é formado por "22 países do grupo árabe, Rússia, Índia que estão frontalmente contra" medidas mais ambiciosas de redução de emissões. Este impasse reflete as complexas dinâmicas geopolíticas que caracterizam as negociações climáticas internacionais.
A comunidade científica, que já havia criticado versões anteriores do texto, qualificou a nova proposta como "traição" aos princípios científicos. Carlos Nobre defendeu prazos claros: "Idealmente, zerar o uso de combustíveis fósseis até 2040, não mais que 2045", alinhando-se com as recomendações do painel científico.
O simbolismo da sumaúma - árvore gigante da Amazônia que recebe os participantes da COP, mas aparece "como que interrompida, podada no meio" - parece refletir adequadamente o sentimento de frustração que permeia as discussões. A imagem da árvore incompleta ecoa a percepção de que as negociações estão igualmente truncadas.
Embora insatisfações com primeiros rascunhos não sejam incomuns em COPs, a intensidade das críticas e a formação de blocos tão definidos indicam que as negociações finais serão particularmente desafiadoras. O resultado destas discussões determinará o tom dos compromissos climáticos globais para os próximos anos.