COP30 termina em Belém com avanços e pendências para 2026
COP30: avanços pontuais e pendências climáticas

COP30 encerra com avanços históricos e desafios pendentes

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas chegou ao fim neste sábado (22) em Belém com um saldo de progressos significativos em algumas áreas e importantes pendências que deverão ser retomadas nas negociações de 2026. O evento, que reuniu representantes de 195 países na capital paraense, aprovou um pacote de decisões que evitou um impasse maior num cenário de forte fragmentação geopolítica.

Conquistas históricas da conferência

Um dos principais resultados da COP30 foi a adoção de um conjunto comum de indicadores para a Meta Global de Adaptação. Esta é a primeira vez que as conferências do clima chegam a um acordo sobre como medir o preparo dos países diante de eventos extremos. Para especialistas, este passo ajuda a dar mais clareza a uma agenda que sempre avançou de forma lenta e desigual.

Outro marco importante foi o reconhecimento dos direitos indígenas como estratégia climática. O pacote final da COP traz, pela primeira vez, referências claras ao papel dos povos indígenas na proteção das florestas e na adaptação ao clima. Diferentes decisões citam esses direitos de forma explícita, representando um avanço inédito nas negociações da ONU.

A conferência também aprovou a criação do Mecanismo de Belém para uma transição justa, conhecido como BAM. Na prática, o BAM organiza, pela primeira vez, um caminho permanente para que países em desenvolvimento possam planejar a mudança para economias de baixo carbono sem deixar trabalhadores e comunidades vulneráveis para trás.

Pontos críticos sem resolução

O texto final não incluiu compromissos concretos sobre combustíveis fósseis, tema que dividiu países até as últimas horas de negociação. Também não houve acordo sobre como reduzir a distância entre o que o mundo promete e o que seria necessário para limitar o aquecimento a 1,5°C.

O financiamento para adaptação, considerado decisivo para países em desenvolvimento, avançou menos do que o esperado. Os países concordaram em "fazer esforços" para triplicar o financiamento de adaptação até 2035, mas sem especificar valores concretos, fontes de recursos ou responsabilidades definidas.

Outra ausência significativa foi a exclusão dos mapas do caminho defendidos pelo Brasil e pela Colômbia para organizar a transição para longe dos fósseis e zerar o desmatamento. Isso aconteceu após resistência de países produtores de petróleo.

Próximos passos e avaliações

Várias questões seguem abertas e devem ser retomadas na próxima conferência da ONU sobre clima, marcada para 2026, em Antália, na Turquia. A presidência da COP30 anunciou que vai seguir trabalhando nos documentos sobre combustíveis fósseis e desmatamento ao longo de 2025, numa tentativa de manter o tema vivo depois da resistência de países contrários.

Especialistas apresentaram avaliações divergentes sobre os resultados. Mauricio Voivodic, Diretor Executivo do WWF-Brasil, destacou que "esta foi provavelmente a primeira COP em que combustíveis fósseis e florestas estiveram no centro do debate", mas reconheceu que "o Mutirão Global carece de ambição".

Já Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima, fez uma leitura mais ampla: "Belém entregou o que era possível num mundo radicalmente transformado para pior" e evitou um cenário de implosão do Acordo de Paris.

Um grupo de cientistas que atuou durante a COP30, incluindo pesquisadores como Carlos Nobre e Thelma Krug, emitiu uma declaração reconhecendo o esforço brasileiro, mas alertando que não há como manter a temperatura dentro dos limites sem encerrar a dependência de combustíveis fósseis. Segundo eles, caso isso não ocorra, o mundo pode ser empurrado para uma mudança climática perigosa em no máximo dez anos.