As negociações da COP30 em Belém se estenderam pela noite adentro neste sábado (22), ultrapassando o prazo oficial de encerramento que estava marcado para sexta-feira (21). Novas versões dos rascunhos dos textos finais foram publicadas na manhã de sábado, horas antes das plenárias que deveriam marcar o fim da conferência.
Impasse sobre combustíveis fósseis
Em declaração exclusiva ao site Amazon Vox, o presidente da COP, André Corrêa do Lago, confirmou que o chamado "mapa do caminho" para o fim do uso dos combustíveis fósseis não será incorporado aos textos finais da Conferência do Clima. "Roadmap nós vamos anunciar, roadmap vai ser uma iniciativa da presidência brasileira. Não fica no texto", afirmou o diplomata brasileiro.
As discussões sobre temas sem consenso avançaram durante a madrugada e as negociações só foram encerradas pouco depois das 8h da manhã de sábado. O texto final só será oficializado se todos os mais de 190 países participantes concordarem integralmente com o conteúdo.
Críticas aos rascunhos e divisões
O conjunto de textos com rascunhos das decisões divulgado na sexta-feira foi considerado "fraco" por especialistas, com "furos inaceitáveis" e classificado como uma "traição à ciência". Na versão apresentada, não havia qualquer menção aos combustíveis fósseis - petróleo, gás natural e carvão - que são as principais causas do aquecimento global.
Além do mapa do caminho para eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, os países permanecem profundamente divididos sobre como financiar a adaptação climática. Não há acordo sobre valores, fontes de recursos e regras de distribuição para apoiar as nações mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas.
Posição da União Europeia
A União Europeia sinalizou que pode bloquear o acordo final caso não sejam feitas alterações significativas nos documentos. O comissário europeu de Clima, Wopke Hoekstra, foi contundente em reunião fechada: afirmou que o novo texto da conferência "não tem ciência, não tem transição e mostra fraqueza".
"Em nenhuma circunstância nós vamos aceitar isso. E nada que chegue sequer perto disso - e digo isso com dor no coração - nada que se aproxime do que está na mesa agora", declarou Hoekstra.
Resistência de produtores de petróleo
Por outro lado, entidades que acompanham as negociações apontam um movimento do bloco de países chamado LMDC contra qualquer menção ao termo combustíveis fósseis no texto final. Este grupo é liderado principalmente pela Arábia Saudita e Índia, e conta com o silêncio estratégico da China sobre o tema.
Também fazem parte deste bloco: Argélia, Bangladesh, Egito, Indonésia, Irã, Malásia, Paquistão, Filipinas, Sri Lanka, Sudão, Síria, Vietnã e Cuba.
Participação recorde e próximos passos
A COP30 em Belém reuniu mais de 42 mil participantes de 195 países na Blue Zone, segundo dados preliminares do Ministério do Turismo e da Polícia Federal coletados entre 10 e 20 de novembro. O governo federal afirma que esta foi a segunda maior edição da história em público, atrás apenas da conferência realizada em Dubai.
Uma das poucas decisões já confirmadas é sobre as próximas sedes das conferências: ficou definido que a Turquia será a sede da COP31 em 2026, e a Etiópia receberá a COP32 em 2027.
Os adiamentos nas conferências do clima são considerados comuns pelos negociadores experientes, mas a falta de avanços concretos sobre questões centrais como o financiamento climático e a transição energética preocupa observadores e ativistas ambientais.