Um projeto visionário para conectar fragmentos florestais no Estado do Rio de Janeiro através de corredores de bioeconomia foi destaque na COP-30, em Belém. A proposta foi apresentada pelo pesquisador José Guilherme Figueiredo, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP (Fipe), durante umas das palestras mais relevantes do evento climático.
Regenera Rio: Conectando vidas através da bioeconomia
O projeto "Regenera Rio - Vidas em Conexão" representa uma rede de corredores de biotecnologia desenvolvida especificamente para fomentar a bioeconomia da Mata Atlântica no território fluminense. A iniciativa tem como objetivo principal reverter a perda de diversidade que já afeta gravemente a fauna e a flora locais.
José Guilherme Figueiredo, com 40 anos de formação e vasta experiência em gestão territorial, explica que o Rio de Janeiro precisa se preparar desde já para uma nova economia de transição energética. "Apesar da recente descoberta de petróleo pela Petrobras na Bacia de Campos, o estado deve se antecipar à redução da produção de óleo e gás nas próximas décadas", alerta o especialista.
Potencial de restauração e desafios hídricos
O potencial de restauração no estado é impressionante: cerca de 1 milhão de hectares podem ser destinados ao desenvolvimento de florestas produtivas e agricultura regenerativa em larga escala. A modelagem computacional já identificou 4 mil quilômetros de corredores no território fluminense, correspondendo a uma área entre 75 mil e 77 mil hectares.
Dados alarmantes revelam que 63% das áreas desses corredores já são fragmentos florestais, mas o maior desafio está em conectá-los adequadamente. O objetivo é alcançar aproximadamente 50% do território em áreas protegidas, dentro dos arcabouços municipal, estadual e federal.
A situação hídrica no estado preocupa especialistas. Um estudo denominado "Pacto pelas Águas" mapeou entre 400 e 500 pontos de captação de água e demonstrou que o Rio de Janeiro já enfrenta estresse hídrico que compromete o abastecimento da população.
RPPNs e o mercado de cotas ambientais
O Rio de Janeiro possui uma posição pioneira no Brasil como primeiro estado a lançar uma política de cotas de reserva ambiental em RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural). Os corredores de bioeconomia conectam essas reservas, criando valor através de um selo socioambiental e econômico.
"As RPPNs fortalecem os ativos socioambientais do Estado do Rio de Janeiro - água, biodiversidade e carbono", destaca Figueiredo. Elas promovem a produção local de alimentos saudáveis para abastecer escolas, creches, asilos, restaurantes populares e famílias em situação de vulnerabilidade.
O pesquisador prefere chamar esses corredores de "conexões de vida", pois representam verdadeiras redes que integram pessoas, animais e plantas em um ambiente associado a uma nova economia florescente.
Biodiversidade ameaçada e oportunidades econômicas
O estado enfrenta uma crise de biodiversidade, com diversas espécies em processo de extinção catalogadas no Livro Vermelho da Mata Atlântica. A conexão dos corredores permite que espécies animais fluam entre fragmentos, aumentando sua resiliência genética.
Além dos benefícios ambientais, o projeto abre oportunidades econômicas significativas. O Brasil importa cerca de US$ 2 bilhões em fito fármacos anualmente, e esses corredores podem produzir biofármacos e alimentos de qualidade sem agrotóxicos.
"O Rio de Janeiro é muito dependente de alimentos de outros estados. Se produzirmos mais alimentos dentro do próprio estado, reduziremos as emissões com transporte", argumenta Figueiredo.
Após a receptividade positiva na COP-30, o pesquisador retorna ao Rio de Janeiro motivado para implementar essa grande rede de conectores que promete transformar a relação entre homem e natureza no estado.