
Imagine transformar seu corpo em terra fértil após a morte. Soa estranho? Pois essa é a proposta da compostagem humana, um método que está causando furor - e muita polêmica - pelo mundo afora.
Não é ficção científica, tampouco algo saído de um filme de terror. A redução orgânica natural, como tecnicamente se chama, representa talvez a mais radical inovação nos rituais fúnebres dos últimos séculos. E olha que a humanidade já viu de tudo quando o assunto é despedir-se dos entes queridos.
Como Funciona Essa Tal de Transformação em Adubo?
O processo é mais sofisticado do que simplesmente jogar o corpo numa pilha de compostagem. A tecnologia desenvolvida pela empresa Recompose explica que o corpo é colocado em um recipiente reutilizável junto com lascas de madeira, alfafa e palha. Durante aproximadamente 30 dias, ocorre a decomposição acelerada através da ação microbiana.
O resultado? Cerca de um metro cúbico de solo nutritivo - suficiente para encher a caçamba de uma picape média. Os familiares podem ficar com parte dessa terra ou doá-la para projetos de conservação ambiental. Uma ideia que, convenhamos, dá o que pensar.
Onde Isso Já é Permitido?
A legislação ainda engatinha nesse tema, mas alguns lugares já abriram as portas para essa alternativa:
- Estados Unidos: Califórnia, Colorado, Nova York, Oregon, Vermont e Washington legalizaram o procedimento
- Suécia: Permite a compostagem através de um método de congelamento e vibração
- Reino Unido: Discute ativamente a regulamentação
Curioso notar como diferentes culturas estão abraçando a ideia - ou pelo menos considerando seriamente a possibilidade.
Os Prós que Estão Convencendo Muita Gente
Os defensores argumentam com pontos bastante sólidos:
- Impacto ambiental reduzido: Comparado à cremação, consome apenas 1/8 da energia
- Sem emissões de carbono: Diferente da cremação, que libera CO2 na atmosfera
- Alternativa ao formol: Evita os produtos químicos usados no embalsamamento
- Uso do solo: Pode revitalizar áreas degradadas ou ajudar no reflorestamento
Numa era de preocupação climática, esses argumentos ecoam forte entre os mais ambientalmente conscientes.
Mas Nem Tudo São Flores... Ou Melhor, Composto
A oposição, principalmente de grupos religiosos, é ferrenha. A Igreja Católica, por exemplo, já se manifestou contra, considerando a prática incompatível com a dignidade do corpo humano. Para eles, o corpo deve retornar à terra "naturalmente", não através de um processo industrializado.
Há também quem questione o aspecto emocional - será que as famílias se sentiriam confortáveis sabendo que o ente querido virou adubo? A psicologia do luto ainda precisa digerir (com o perdão do trocadilho) essa nova realidade.
E no Brasil, Como Fica Essa História?
Aqui nas terras tupiniquins, a compostagem humana ainda não tem previsão legal. Nosso ordenamento jurídico só reconhece sepultamento e cremação como métodos funerários válidos. Mas considerando como o debate ambiental tem avançado, quem sabe não veremos essa discussão chegar por aqui mais cedo do que imaginamos?
O fato é que a morte, assim como a vida, está sujeita à evolução dos costumes. Se no passado a cremação era vista com desconfiança e hoje é amplamente aceita, talvez a compostagem humana siga o mesmo caminho. Resta saber se a sociedade está preparada para essa transformação - em todos os sentidos da palavra.
Uma coisa é certa: a conversa sobre sustentabilidade alcançou um território que, até pouco tempo atrás, parecia intocável. E isso, por si só, já é digno de reflexão.