Jornada épica até Belém
Na madrugada da última sexta-feira (7), um grupo determinado de ativistas ambientais do Acre iniciou uma verdadeira maratona aérea com destino a Belém, no Pará. A comitiva, composta por 30 representantes do Comitê Chico Mendes, enfrentou quase 11 horas de viagem para participar da COP30, a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas.
A jornada começou ainda de madrugada, com saída do aeroporto de Rio Branco às 1h50. Após escala em Brasília que durou mais de duas horas, o grupo finalmente desembarcou na capital paraense por volta das 12h05, horário de Brasília.
Desafios logísticos limitam participação amazônica
O jornalista Victor Manoel, que integra a comitiva, destacou ao g1 as dificuldades enfrentadas pelos moradores da região Norte para participar de eventos desta magnitude. "As pessoas não entendem o quão limitante é esse deslocamento do Acre para qualquer outro estado", afirmou.
Victor revelou sua surpresa ao descobrir que existe um voo direto do Acre para Belém, mas opera em horários específicos e com preços elevados. "Para conseguir um voo decente, que existe um voo direto do Acre para Belém, é em um horário certo, de um dia certo, e é mais caro que o normal", complementou.
Karla Martins, articuladora do Comitê Chico Mendes, reforçou que o custo elevado das passagens e a escassez de voos representaram barreiras significativas para a participação de outros representantes amazônicos, mesmo em uma edição da COP realizada dentro da própria floresta.
Espaço Chico Mendes na COP30
A comitiva acreana participará da inauguração do Espaço Chico Mendes e Fundação Banco do Brasil na COP30, localizado no Museu Paraense Emílio Goeldi, no bairro Terra Firme. O local se tornará um centro de debates sobre o legado de Chico Mendes e o papel fundamental dos povos da floresta nas discussões climáticas globais.
"O Comitê Chico Mendes vai estar dentro desse espaço junto com uma quantidade de parceiros fazendo várias agendas coletivas", explicou Karla Martins. "Acompanharemos os encontros de mulheres extrativistas, de mulheres indígenas, de juventudes, além de atividades culturais, debates, pautas climáticas e outras questões que estão sendo colocadas para debate."
O espaço também contará com atividades do Conselho Nacional dos Extrativistas e da Revista Xapuri, ampliando a representatividade das vozes amazônicas no evento internacional.
Missão que transcende a presença física
Apesar do financiamento obtido através da Fundação Banco do Brasil, que possibilitou a viagem de cerca de 70 pessoas vinculadas ao comitê, os ativistas ressaltam que a logística continua sendo um obstáculo significativo para que mais acreanos possam participar.
Para Victor Manoel, a presença na COP30 representa mais do que simples participação: "Estar presente na COP30, mesmo com esses desafios, é acima de tudo garantir esse espaço para nós como nortistas e como acreanos. Isso representa essa oportunidade de poder falar e estar presente como acreano."
Karla Martins enfatizou que o objetivo vai além da mera presença física. "É um legado que ocupa muitas camadas e interseccionaliza por todos os biomas, por todas as questões ambientais e por todos os debates de clima", refletiu.
Ela finalizou lembrando que o pensamento de Chico Mendes transcendeu seu tempo: "O pensamento do Chico era, para além do tempo dele, uma proposta de uma sociedade com bem viver garantido, com condição de vida para quem está na urbanidade e para quem está nas florestas, nas águas, nos diversos biomas nas zonas rurais, nas zonas florestais."