A coleta seletiva continua sendo um grande desafio para as principais cidades do Sul de Minas Gerais. Embora Poços de Caldas, Pouso Alegre, Varginha e Passos ofereçam o serviço, o volume de material reciclável recolhido permanece significativamente abaixo do potencial real de cada município.
Especialista aponta caminhos para melhorar a reciclagem
Segundo o engenheiro ambiental Gustavo Oliveira de Paula, o avanço da coleta seletiva depende da expansão do serviço, do incentivo às cooperativas e, principalmente, da mudança de hábitos da população. "Falta incentivo e estrutura em muitos municípios. Com mais pontos de coleta e apoio do poder público, é possível reduzir a quantidade de lixo enviada aos aterros e prolongar a vida útil dessas áreas", afirma o especialista.
Enquanto o serviço não se torna mais abrangente, uma alternativa viável é a população se envolver diretamente com a causa, realizando a separação correta e a destinação adequada dos resíduos. Este tema ganha relevância global durante a COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que começou oficialmente nesta segunda-feira (10) em Belém, no Pará.
Situação cidade por cidade
Poços de Caldas quer dobrar volume reciclado
Em Poços de Caldas, a prefeitura realiza a coleta seletiva em todos os bairros uma vez por semana. O material coletado é encaminhado para três cooperativas que fazem a triagem e destinação correta dos resíduos.
Celso Donato, secretário municipal de Serviços Públicos, revela que atualmente são recolhidas aproximadamente 110 toneladas de recicláveis por mês, mas a meta é ambiciosa: dobrar esse volume até 2026. "Queremos chegar a 200 toneladas por mês ampliando a coleta para duas vezes por semana em 2026. No longo prazo, o potencial de Poços é de 300 toneladas mensais", projeta o secretário.
A expansão do serviço será acompanhada de ações de conscientização nas escolas e campanhas que incentivem a separação correta dos materiais. Vale destacar que a coleta seletiva, além dos benefícios ambientais, também gera renda - atualmente, 21 famílias trabalham em apenas uma das cooperativas.
Pouso Alegre possui aterro adequado, mas coleta parcial
Em Pouso Alegre, a coleta seletiva atende apenas parte da cidade, enquanto o restante do lixo segue para o aterro sanitário municipal. Thaís Oliveira Ribeiro, secretária de Planejamento Urbano e Meio Ambiente, explica que o aterro é impermeabilizado, prevenindo a infiltração do chorume no solo, e conta com sistema para queima do gás metano, um dos principais causadores do efeito estufa.
"O futuro passa por aproveitar melhor o que hoje chamamos de lixo. Materiais orgânicos, por exemplo, podem ser transformados em adubo por meio da compostagem", destaca a secretária.
Passos terceiriza o serviço
Já em Passos, a coleta seletiva é realizada por uma empresa terceirizada, com recolhimento semanal em cada bairro da cidade.
Varginha: divergência sobre funcionamento do serviço
Em Varginha, a situação é mais complexa. O coletivo "Varginha Lixo Zero" afirma que a coleta seletiva está suspensa, enquanto a prefeitura nega a informação e garante que o serviço continua funcionando. A gestão municipal não respondeu aos questionamentos da EPTV sobre o cronograma de coleta nos bairros.
Diante da incerteza, o coletivo lançou uma lista com os ecopontos da cidade, onde a população pode entregar voluntariamente materiais recicláveis e resíduos que exigem logística reversa. Jaara Cardoso, bióloga e educadora ambiental, enfatiza que a divulgação desses locais é essencial para incentivar a separação dos resíduos.
"São materiais de pequeno volume que podem ser levados facilmente. Essa atitude evita a contaminação e contribui para o descarte correto", afirma a especialista.
Iniciativas que fazem a diferença
Os ecopontos de Varginha são mantidos através de parcerias entre o coletivo Lixo Zero, a prefeitura e empresas locais, incluindo supermercados, drogarias e o projeto Vida Viva. Este último transforma parte do material arrecadado em recursos para compra de medicamentos.
A iniciativa também recolhe lacres de latinhas e tampinhas plásticas, cuja venda ajuda a atender 33 mil pacientes em 53 municípios da região, demonstrando como pequenas ações podem gerar grandes impactos sociais e ambientais.
O caminho para a sustentabilidade no Sul de Minas exige, portanto, não apenas melhorias na estrutura pública, mas também o comprometimento diário de cada cidadão com o descarte consciente.