
O ar pesado no Palácio do Buriti não era só da fumaça que ainda pairou por dias no céu do Distrito Federal. Nesta terça-feira (30), a ministra Marina Silva entregou — com aquela voz mansa que sabe ficar firme quando precisa — as medalhas de mérito ambiental a cinco heróis que não puderam recebê-las pessoalmente.
Os brigadistas, sabe como é, estavam ocupados demais salvando árvores, bichos e gente quando o fogo os levou. Ironia cruel, não? Quem vivia apagando chamas morreu queimado.
O preço da coragem
"A gente fala em combate ao fogo como se fosse guerra mesmo — e é", disse um colega de equipe com o uniforme ainda sujo de cinzas. Dos 34 profissionais que atuaram na linha de frente do incêndio no Parque Nacional de Brasília, esses cinco cruzaram a linha que ninguém quer atravessar.
Marina, com aquela cara de quem já viu demais na vida, fez discurso curto mas que doía:
- "Nenhuma medalha devolve um abraço"
- "Nenhum título enxuga lágrima de mãe"
- "Mas talvez lembre que alguns escolhem servir até o fim"
No fundo da sala, uma senhora — deve ser mãe de algum dos homenageados — apertava a medalha contra o peito como se fosse segurar o filho. Dói só de imaginar.
O outro lado da tragédia
Enquanto isso, do lado de fora, o cheiro de queimado ainda dava voltas pelo cerrado. Os bombeiros dizem que o fogo tá controlado, mas todo mundo sabe que no próximo verão a história se repete. Sempre se repete.
Será que a gente aprende? Difícil. Mas por hoje, pelo menos, cinco nomes foram gravados na história. E não só nas lápides.