COP30: Brasil lidera mapa de transição energética enquanto amplia petróleo na Amazônia
Brasil na COP30: contradições na transição energética

A COP30 entra em sua fase decisiva em Belém com um esforço articulado para concretizar um mapa global de transição energética, proposta lançada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva que pode se tornar o principal marco político da conferência climática.

A diretora-executiva da COP30, Ana Toni, anunciou nesta segunda-feira (17) que um primeiro esboço sobre as tratativas mais delicadas da conferência deve ser concluído até terça-feira à tarde. O texto preliminar reunirá discussões sobre medidas comerciais unilaterais, a reação dos países ao relatório de síntese das NDCs (metas nacionais de redução de emissões), aspectos de prestação de contas e a atualização do Global Stocktake (GST).

O que propõe o roadmap brasileiro

O documento iniciaria, pela primeira vez na história das conferências climáticas, a discussão concreta de como o mundo pretende reduzir gradualmente o uso de petróleo, gás e carvão, indo além das simples declarações de intenção.

O ambientalista Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, explica que a inovação do roadmap está em transformar um enunciado vago em um plano concreto. "O que a gente teve em Dubai foi só uma expressão: o mundo concorda em transitar para longe dos combustíveis fósseis. O que se tenta fazer aqui é dizer como isso vai acontecer", afirma.

Segundo Astrini, esse tipo de acordo seria o primeiro instrumento capaz de orientar planos nacionais de transição energética de forma coordenada entre as nações.

Resistência e contradições

O avanço da proposta brasileira enfrenta forte resistência dos grandes produtores de combustíveis fósseis. A Arábia Saudita e aliados têm tentado remover da decisão final qualquer referência ao roadmap ou a uma aceleração da substituição dos fósseis por fontes limpas.

Delegações europeias relatam que as minutas de texto estão sendo "diluídas" e "puxadas para trás" pelos países produtores. Diante desse cenário, a expectativa mais realista é que a COP30 conclua a criação de um grupo de trabalho para desenvolver o texto ao longo de 2026.

Enquanto tenta conduzir o debate global, o Brasil enfrenta uma contradição interna significativa: o avanço da prospecção de petróleo na Amazônia, incluindo blocos na Margem Equatorial e na Foz do Amazonas.

Astrini reconhece a incoerência, mas argumenta que explorar petróleo não invalida a proposta brasileira. "O presidente Lula está dizendo que quer ver esse acordo funcionar no planeta, e que tem compromisso em realizar a transição no Brasil, mas não sozinho", explica.

Financiamento e implementação

Para organizações sociais e países em desenvolvimento, o roadmap só terá credibilidade se vier acompanhado de financiamento robusto. Astrini destaca que é necessário um caminho que indique que a transição será gradual, justa e com apoio financeiro inclusive para países que não são ricos, mas são importantes emissores.

O ambientalista também aponta indicadores objetivos para medir se o mundo está, de fato, em transição energética: "Se quisermos estabilizar o clima, não podemos abrir mais nenhum novo poço de petróleo. Essa já é uma medida. Outra é não explorar em áreas sensíveis, como a Amazônia".

Um segundo conjunto de propostas da COP30 deve ser finalizado até sexta-feira (21), data de encerramento oficialmente prevista para o encontro em Belém. Essa nova etapa incluirá tópicos que não se enquadram diretamente nos quatro eixos principais discutidos até agora.

Se a COP30 terminar sem acordo sobre o roadmap, Astrini alerta que a perda será global: "Quem perde são as pessoas que já estão sofrendo desastres, no Rio Grande do Sul, Paraná, Amazônia, Petrópolis, Recife, Paquistão, Bangladesh, Jamaica, Filipinas. Não é derrota diplomática. É derrota da esperança".