
Não é brincadeira não. O que era pra ser apenas mais um dia comum às margens do Rio Tietê se transformou num daqueles registros que a gente não gostaria de fazer, mas que é necessário. Um morador de Salto, lá na região de Sorocaba e Jundiaí, pegou seu celular e filmou uma cena que dá um nó no estômago: a água do rio, conhecida por seus históricos problemas, aparecendo com uma coloração escura, quase negra, num tom que definitivamente não é o normal.
O vídeo, que começou a circular nesta terça-feira, 20 de agosto, é curto mas poderoso. E mais do que isso, é a prova viva de que algo não vai bem. A pessoa que registrou não ficou só na filmagem – tomou a atitude certa e acionou a DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), porque, convenhamos, ninguém é besta de achar que um rio fica daquela cor naturalmente, não é mesmo?
E aí, de quem é a culpa? Essa é a pergunta de um milhão de dólares que fica pairando no ar. Será um despejo industrial que fugiu do controle? Algo relacionado ao sistema de saneamento, que sabemos não ser dos melhores em tantas partes do país? Ou será uma combinação trágica de fatores que culminou nessa visão desoladora? A verdade é que, no momento, ninguém tem uma resposta concreta – e é justamente essa incerteza que mais assusta.
Um Rio de Luta e Resistência
O Tietê não é um rio qualquer. Ele é praticamente um personagem da história de São Paulo, carregando nas suas águas (ou no que restou delas) as memórias e os erros de décadas de desenvolvimento desenfreado. Já foram gastos rios de dinheiro – trocadilho inevitável – em projetos de despoluição, com altos e baixos. Ver uma recaída dessas, ou um novo problema dessa magnitude, é um soco no fígado de qualquer um que ainda tenha esperança.
O pior de tudo é pensar no que aquela água carrega. Não é só uma questão estética, de ficar feio. Aquela coloração escura é um indicativo forte de matéria orgânica em decomposição, falta de oxigênio, e quem sabe a presença de produtos químicos que nem queremos imaginar. O impacto disso na vida aquática que ainda teima em sobreviver ali é brutal. E o cheiro? Só quem já passou perto de um trecho poluído sabe descrever.
E Agora, José?
A bola agora está com as autoridades. O DAEE confirmou que recebeu a denúncia e, em teoria, deve apurar a origem do problema. O grande desafio, como sempre, é que essas investigações podem ser lentas e, não raro, acabam emperradas na burocracia ou na falta de recursos. Enquanto isso, o rio sofre em silêncio – nem tão silêncio assim, graças ao cidadão que fez a sua parte.
Esse caso escancara, mais uma vez, a velha e conhecida ferida da gestão hídrica no estado. Avanços pontuais são comemorados, mas a recorrência de problemas sérios mostra que a base ainda é frágil. A população, cansada de promessas, usa a ferramenta que tem na palma da mão: o celular virou uma arma poderosa de fiscalização popular.
Restar torcer – e cobrar – para que as imagens não caiam no esquecimento. Que elas sirvam como um catalisador para ações concretas. Porque o Tietê já deu muitos sinais de cansaço. E ignorá-los, como a história já mostrou, sai caro para todo mundo.