
Imagine tentar pegar um ônibus após um longo dia de trabalho e se deparar com um verdadeiro campo minado de bolas de concreto. Essa é a nova realidade – e a grande frustração – de quem passa pela Rodoviária do Plano Piloto, no coração de Brasília.
A administração do local resolveu instalar dezenas daquelas esferas maciças de concreto, aquelas mesmas que a gente vê em calçadas para impedir estacionamento. A justificativa? Nobre, até: organizar o caótico fluxo de veículos e pessoas, criando faixas exclusivas e separando os caminhos. Teoria linda, prática… bem, a prática é outra história completamente diferente.
Os pedestres, aqueles que deveriam ser os maiores beneficiados, estão simplesmente furiosos. A reclamação é unânime: o obstáculo criado é maior que a solução proposta. Idosos, pessoas com dificuldade de locomoção, mães com carrinhos de bebê – todos estão enfrentando uma verdadeira prova de obstáculos para conseguir embarcar. É como se tivessem esquecido que uma rodoviária é, antes de tudo, um lugar de passagem.
"É uma bagunça total", desabafa um usuário
O sentimento geral é de perplexidade. "Em vez de ajudar, está atrapalhando muito", disse uma passageira, visivelmente irritada enquanto tentava manobrar entre as pesadas estruturas. Outro foi mais direto: "É uma bagunça total". A sensação de que ninguém pensou no lado humano da equação – como as pessoas de fato circulariam no dia a dia – é palpável.
E não é só sobre inconveniência; a palavra de ordem agora é preocupação com a segurança. À noite, com a iluminação nem sempre perfeita, essas esferas cinzas e baixas viram armadilhas invisíveis. Um tropeço, uma queda… o risco de acidente disparou. É uma solução que, na tentativa de resolver um problema, parece ter criado outros dois ou três.
E do outro lado? A defesa da medida
Claro, a administração da rodoviária não se calou. Eles argumentam, veementemente, que a medida foi crucial para acabar com a farra dos motoristas que insistiam em trafegar e estacionar em áreas absolutamente proibidas – um perigo constante para quem estava a pé. As esferas seriam, então, uma barreira física intransponível, garantindo que veículos e pessoas finalmente não disputem o mesmo espaço.
É um embate clássico, quase uma fábula urbana: a teoria da ordem versus a realidade do caos do cotidiano. De um lado, planejadores com um mapa bonito na mesa. Do outro, milhares de pessoas tentando apenas chegar em casa.
O que fica claro é que qualquer intervenção no espaço público, por melhor que seja a intenção, precisa ser feita com as pessoas, e não para elas. Será que ninguém pensou em testar isso antes, em fazer uma simulação? A pergunta paira no ar, tão pesada quanto as tais esferas de concreto.
Enquanto isso, no Plano Piloto, a vida segue. Com muito mais obstáculos.