
Não é exagero, não. É o pão nosso de cada dia para milhares de pessoas que, pasmem, vivem dentro da terceira maior metrópole do país. A gente ouve falar de crise, de falta de verba, de dificuldades… mas é só botar o pé nessas localidades que a teoria vira um caldo amargo de realidade. A situação é de fazer corar qualquer um.
O que era pra ser básico – e olha que a palavra ‘básico’ já é um deboche – simplesmente não existe. Imagina acordar com o cheiro de esgoto escorrendo pela rua, porque a tubulação estourou faz meses e ninguém foi ver? Pois é. Isso não é cenário de filme pós-apocalíptico não, é a rua de Dona Maria, no Aglomerado da Serra, só pra citar um exemplo. Ela já perdeu as esperanças de reclamar. "Cansei de ligar pra prefeitura", solta, com uma resignação que corta como faca.
O Descaso Tem CEP
E a coisa não para por aí, nem de longe. A falta de água potável é outra chaga que persiste em pleno 2025. Tem gente que depende de caminhão-pipa – aquele mesmo que a gente associa com o sertão – pra conseguir tomar banho e cozinhar. É de lascar, literalmente. E quando a água finalmente chega, vem com aquele gosto de cloro que gruda na garganta, um lembrete constante do abandono.
E as estradas? Meu Deus, as estradas! Parecem ter passado por um bombardeio, com crateras que engolem pneus e desafiam qualquer suspensão. O transporte público, então, vira uma loteria perigosa. "Ou você chega atrasado no trabalho ou chega com a coluna torcida", brinca um motorista de aplicativo, num humor tão negro quanto o asfalto que deveria estar lá.
O Grito que Ecoa nas Redes
O pior de tudo talvez seja a sensação de invisibilidade. Os moradores se viram nos trinta e foram pra internet. Redes sociais viraram o novo livro de reclamações, na esperança – às vezes frágil – de que alguém, em algum gabinete com ar-condicionado, resolva olhar pra isso. Eles postam vídeos, fotos, fazem live mostrando a encrenca. É uma forma de protesto, um grito de "ei, nós existimos!"
É revoltante. A gente paga impostos, segue as regras, e em troca recebe… o quê, exatamente? Promessas vazias e uma sensação pesada de que somos cidadãos de segunda classe. Essa reportagem é só a ponta do iceberg de um problema que corroi a dignidade de quem mais precisa. Alguém aí vai fazer alguma coisa, ou vamos continuar fingindo que não é conosco?