
Quem passa pelo Fórum de Piracicaba nos últimos tempos se depara com uma cena no mínimo curiosa — quando não assustadora. Centenas, talvez milhares de pombas transformaram o prédio judicial em seu ponto preferido da cidade. E não, não é exagero.
Elas estão por toda parte: nos beirais, nas janelas, nas marquises. Uma verdadeira multidão alada que não passa despercebida. Mas o que traria tantas aves para este endereço específico? A resposta, como sempre, está nos detalhes.
O condomínio perfeito para pombas
O Fórum, com sua arquitetura cheia de recantos, fendas e espaços protegidos, oferece exatamente o que uma pomba busca: segurança contra predadores e intempéries. Some-se a isso a proximidade com a área central, onde comida — seja de restos alimentares ou daquela velha tradição de jogar milho — nunca falta.
"É um cenário perfeito para elas, criado sem querer por nós mesmos", admite um funcionário do local que preferiu não se identificar. "Elas chegam de manhã cedo e ficam o dia todo. Às vezes parece que estamos num filme de Hitchcock."
Mais que sujeira: um problema de saúde pública
Não se trata apenas de uma questão estética ou de limpeza — embora as fezes acumuladas danifiquem estruturas e criem um trabalho extra para a manutenção. O risco real está nas doenças que essas aves podem carregar.
Histoplasmose, criptococose, salmonelose... são nomes complicados para problemas sérios transmitidos através das fezes secas que viram poeira e são inaladas. Idosos, crianças e pessoas com imunidade baixa são as mais vulneráveis.
E por que não simplesmente espantar ou eliminar?
Aqui mora o dilema. As pombas-domésticas são protegidas por lei ambiental — consideradas até mesmo símbolos da paz em muitas culturas. Matá-las é crime ambiental, com pena de detenção de seis meses a um ano, mais multa.
"Temos que encontrar soluções inteligentes que respeitem tanto a saúde pública quanto a legislação", explica uma bióloga da prefeitura. "Não adianta querer resolver com violência, porque além de errado, não funciona a longo prazo."
As saídas possíveis (e humanizadas)
Specialistas apontam caminhos mais eficazes — e menos cruéis:
- Barreiras físicas: Telas, espículas e fios de aço tensionado impedem o pouso e a nidificação sem machucar as aves
- Controle da alimentação: Campanhas educativas para evitar que people alimentem os animais na região
- Manejo de ovos: Substituição por ovos falsos para controlar a reprodução excessiva
- Repelentes ópticos ou sonoros: Dispositivos que afastam sem causar danos
O Tribunal de Justiça já está ciente do problema e estuda medidas — afinal, ironicamente, é justo no templo da lei que esse conflito entre natureza e urbanização se desenrola.
Enquanto isso, as pombas continuam sua rotina diária no Fórum, inconscientes do debate que causam. Elas apenas seguem instintos milenares de sobrevivência em um mundo que, de repente, ficou cheio de edifícios onde antes havia árvores.