Sinfonia Caótica: Como Buzinas e Tambores Salvam as Jabuticabeiras de São Carlos dos Bravos Maritacas
Guerra sonora: buzinas contra maritacas em São Carlos

Imagine acordar com o som de dezenas de buzinas e batidas de tambor. Não é um ensaio de escola de samba fora de época, nem um protesto nas ruas. É o desespero de agricultores em São Carlos, no interior paulista, tentando salvar suas plantações de uma invasão barulhenta e faminta: as maritacas.

O que começou como um problema pontual virou uma verdadeira batalha campal. Todo santo dia, bandos dessas aves verdes descem sobre os pomares como pequenos saqueadores alados. Elas não vêm por um ou dois frutos – querem a plantação inteira de jabuticaba.

E aí entra a criatividade popular. Sem acesso a tecnologias caras ou métodos convencionais, os produtores locais apelaram para o que tinham à mão: fazer o maior barulho possível. Buzinas de carro adaptadas, tambores surrados de bateria escolar – tudo vale na hora de assustar as penosas invasoras.

«É uma loucura, parece que estamos numa guerra», conta um agricultor que preferiu não se identificar. «Mas funciona! Elas ficam assustadas com o barulhão e acabam indo procurar comida em outro lugar.»

Mas por que tanto alvoroço?

A jabuticaba não é só uma fruta saborosa – é fonte de renda para muitas famílias da região. E as maritacas, espertas que só elas, aprenderam que os pomares urbanos são um buffet gratuito. O problema é que onde passa uma, passam cinquenta. E o estrago é imenso.

Os vídeos que circulam nas redes sociais mostram a cena surreal: de um lado, dezenas de maritacas disputando espaço nos galhos. Do outro, humanos com instrumentruídos improvisados tentando recuperar o território. Parece cena de filme de comédia, mas é a realidade de quem cultiva frutas na cidade.

E será que funciona mesmo?

Biólogos explicam que as aves silvestres realmente se assustam com ruídos abruptos e inesperados. O método, ainda que pareça rudimentar, explora esse instinto natural de fuga. Mas alertam: é uma solução paliativa. As maritacas são persistentes e inteligentes – podem se acostumar com o barulho se ele for muito repetitivo.

«É como enganar uma criança esperta», brinca um morador. «Temos que variar o som, mudar o horário, criar surpresas sonoras. Se ficar sempre igual, elas percebem que é blefe.»

Enquanto isso, a cena continua sendo uma atração peculiar em São Carlos. Moradores já se acostumaram com a sinfonia caótica das buzinas anti-maritacas. E as jabuticabeiras? Agradecem – cada fruta salva é uma pequena vitória nessa guerra urbana entre humanos e aves.