
Quem caminha pelo centro de Cuiabá nos últimos tempos se acostumou com um espetáculo que, convenhamos, não é nada comum. De repente, o cinza da cidade ganha cores vibrantes - tons de azul, amarelo e verde que riscam o céu num voo gracioso. São as araras-canindé, que resolveram fazer da área urbana seu novo lar.
E não é que esses visitantes ilustres viraram até celebridades? Tanto chamaram a atenção que agora são alvo de pesquisas científicas sérias e até de documentário. Acontece que essa mudança de endereço das araras - do campo para a cidade - esconde histórias fascinantes.
Das matas para o asfalto: uma mudança radical
O biólogo Samuel Duleba, que estuda o fenômeno, explica com entusiasmo: "É impressionante como elas se adaptaram. Encontraram na cidade tudo que precisam: comida, abrigo e, pasmem, até certa proteção". Parece ironia, mas o ambiente urbano oferece menos predadores naturais que as florestas.
E olha só que curioso: as araras desenvolveram hábitos totalmente novos. Aprenderam que certas árvores urbanas são perfeitas para dormitórios coletivos. E a alimentação? Bem, descobriram que os pomares residuais e árvores frutíferas plantadas na cidade são uma verdadeira festa.
Um documentário para contar essa história
O cineasta e jornalista Rodrigo França pegou carona nessa história e está produzindo um documentário caprichado. "Quando vi aquela revoada colorida contra os prédios, soube que tinha uma narrativa incrível nas mãos", conta ele, ainda maravilhado.
As filmagens já capturaram cenas de tirar o fôlego - centenas de araras descansando em árvores no coração do quadrilátero central, seus rituais de acasalamento adaptados ao ambiente urbano, e até seus "diálogos" barulhentos que ecoam entre os edifícios.
O que isso nos ensina?
Talvez a lição mais bonita seja que natureza e urbanismo podem, sim, coexistir. Enquanto muitas cidades expulsam a fauna local, Cuiabá está mostrando que é possível outro caminho. As araras não são invasoras - são novas moradoras que encontraram uma maneira inteligente de sobreviver num mundo em transformação.
E pensar que alguns reclamam do barulho... Particularmente, acho um alvoroço das mais bem-vindas. Bem melhor que o ruído dos carros, não?
Os pesquisadores continuam de olho. Quem sabe quais outros segredos essas araras urbanas ainda vão revelar? Uma coisa é certa: Cuiabá nunca mais será a mesma depois dessa invasão - no bom sentido, é claro.