Imagine só: um major rico e podre de mau, desses que mandam mais que coronel no interior. Morreu e não sossegou — voltou com unhas de ferro e um propósito sobrenatural. Essa não é ficção, é o cerne da aterrorizante lenda do Unhudo, que assombra o imaginário de cidades como Dois Córregos e Jaú, no interior de São Paulo.
Dizem que em vida, esse sujeito era daqueles que ninguém ousava contrariar. Dono de vastas terras, tratava a natureza como se fosse descartável — desmatava, poluía, destruía. Mas a morte, ah, a morte veio como um acerto de contas que ninguém esperava.
O Retorno das Trevas
E não é que ele voltou? Pois é. A lenda garante que o major ressurgiu das profundezas, transformado numa criatura horrenda, com unhas longas e afiadas como lâminas. Daquelas de arrepiar até o mais corajoso dos caipiras.
Mas eis a reviravolta: em vez de continuar sua saga de destruição, o Unhudo tornou-se o guardião das matas e rios que outrora devastou. Que ironia, não? Quem diria que a própria assombração viraria símbolo de resistência ambiental — ainda que à base de sustos e arranhões.
Encontros que Paralam o Coração
Quem já ouviu relatos — e no interior isso corre solto nas rodas de conversa — conta que encontrar o Unhudo é experiência pra ninguém botar defeito. Ele aparece do nada, geralmente à noite, emitindo sons guturais que mais parecem alertas. E se você for daqueles que ainda insiste em maltratar bicho ou derrubar árvore... melhor correr.
As unhas? Ah, as unhas são sua assinatura. Marcam árvores, afugentam caçadores e deixam claro: aqui se respeita ou se enfrenta as consequências. Não à toa, virou tema de causos, festivais folclóricos e até inspiração pra artistas locais.
Mais que Medo: Um Legado Cultural
O que me fascina nessas histórias é como elas sobrevivem. Não é só pelo susto — é pela função que cumprem. Num país que sofre com queimadas e desmatamento, que mal há em uma lenda que, mesmo assustadora, prega respeito à natureza?
O Unhudo não é só um fantasma de unhas grandes. É um recado. Um lembrete de que talvez a natureza tenha seus próprios guardiões — mesmo que venham do outro lado.
E no fim das contas, quem não conhece uma história assim? Aquela que os mais velhos contam pra evitar que a gente destrua o que não deve. Pois é. O folclore brasileiro tá aí pra isso: misturar mistério, moral e identidade numa panela só.
E você? Já ouviu falar do Unhudo? Se um dia passar perto de suas terras, olhe pros lados — e respeite a mata. Nunca se sabe quem pode estar watching.
