
E aí, você reparou que as coisas não estão mais no mesmo ritmo de antigamente? Pois é, as tartarugas-da-amazônia também parecem sentir isso na pele — ou melhor, no casco. Pela segunda vez seguida, essas viajantes incansáveis dos rios chegaram atrasadas para seu compromisso mais importante: a desova nas praias de Rondônia.
Normalmente, por volta do final de setembro, as praias do rio Madeira já estariam fervilhando de atividade. Mas este ano, assim como no anterior, o espetáculo da natureza decidiu chegar na hora que bem entendeu. E olha, não foi pouca coisa — quase duas semanas de atraso!
O que está por trás desse relógio biológico desregulado?
Especialistas que acompanham essas senhoras de casco há décadas estão com a pulga atrás da orelha. O biólogo Camillo Farias, do Centro de Estudos de Quelônios da Amazônia, não esconde a preocupação: "Quando a natureza muda seu ritmo, é sinal de que algo não vai bem. E duas temporadas seguidas com atraso significativo? Isso me cheira a problema ambiental sério".
O nível do rio Madeira, diga-se de passagem, está bem diferente do habitual para esta época. Mais baixo, mais tranquilo — talvez até preguiçoso demais para o gosto das tartarugas. E elas, sabidas como são, esperam as condições perfeitas para depositar seus preciosos ovos.
Um trabalho de formiguinha — ou melhor, de tartaruguinha
Enquanto isso, as equipes de monitoramento não tiram o pé do acelerador. São mais de 80 quilômetros de praias sendo vigiadas de perto, desde a região de Nova Mamoré até Porto Velho. Imagine só: profissionais percorrendo a pé essas extensões todas, de olho em qualquer sinal de que as damas do rio resolveram começar a festa.
E tem mais — o projeto Quelônios da Amazônia, que já virou quase uma instituição por essas bandas, completa 45 anos de dedicação às tartarugas. Quase meio século acompanhando cada passo — ou nadada — dessas criaturas fascinantes.
E o que esperar dessa temporada?
Bom, a verdade é que ninguém tem bola de cristal. O atraso inicial não significa necessariamente uma temporada ruim, mas certamente é um sinal amarelo — ou seria verde? — que pisca no painel ambiental da região.
Os pesquisadores seguem na torcida — e no trabalho duro. Afinal, as tartarugas-da-amazônia não são apenas parte da paisagem; são patrimônio vivo da biodiversidade brasileira. E quando elas resolvem mudar seus hábitos, talvez estejam tentando nos dizer algo importante.
Que seja apenas uma pequena irregularidade no grande relógio da natureza — e não um ponteiro avariado indicando problemas maiores pela frente.