Ave rara ressurge após 40 anos: aranponga é flagrada em cidade que carrega seu nome
Aranponga ressurge após 40 anos em Saltinho

Era uma daquelas histórias que parecia ter virado lenda. A aranponga, aquela ave de canto característico que inspirou até o nome de uma cidade, havia simplesmente sumido do mapa. Quarenta anos se passaram sem um único registro confiável em Saltinho, interior paulista. Até que, num daqueles golpes do destino que parecem roteiro de cinema, eis que ela ressurge.

Não foi fácil. O biólogo Vitor de Almeida, um sujeito persistente que não desiste fácil, passou meses na busca. "A gente até começava a duvidar", admite ele, com aquela voz de quem conhece cada canto da mata. "Mas tinha uma esperança teimosa, sabe?"

O momento da revelação

E então aconteceu. Num desses dias comuns que viram extraordinários, o canto inconfundível ecoou pela primeira vez. "Foi arrepiante", conta Almeida, ainda parecendo surpreso. "Depois de tanto tempo estudando a espécie apenas em livros e relatos, ouvi-la ao vivo... é diferente."

A equipe não perdeu tempo. Armou-se com câmeras e gravadores, numa verdadeira operação de resgate sonoro. E conseguiram: não apenas ouviram, como registraram em vídeo o animal - algo que parecia impossível até poucas semanas atrás.

Por que tanto alvoroço?

Você pode estar se perguntando: mas é só um pássaro, não? Errado. A aranponga (que respondendo à pergunta óbvia, não, não é parente da ponga do funk) tem algo de mágico. Seu canto lembra o som de uma bigorna sendo martelada - daí o nome popular de "ferreiro".

E tem mais: a ave é considerada um bioindicador de primeira. Sua presença sinaliza que o ambiente está saudável, em equilíbrio. Seu desaparecimento, há quatro décadas, era um alerta vermelho para o ecossistema local.

  • 1985: último registro confirmado em Saltinho
  • 2025: redescoberta após exatos 40 anos
  • 3 indivíduos foram avistados - sinal promissor

Não é exagero dizer que a cidade recuperou parte de sua alma. Imagine batizar seu município em homenagem a um animal que nem existe mais por ali? Era quase uma ironia triste.

O que mudou?

A pergunta que não quer calar: por que agora? Especialistas arriscam algumas teorias. O reflorestamento de áreas degradadas pode ter criado corredores ecológicos. A redução da caça - que antes ameaçava a espécie - também pesa. E claro, uma pitada de sorte, porque a natureza sempre guarda seus mistérios.

"É como se a cidade tivesse reencontrado sua identidade", reflete uma moradora antiga, dona de um sítio nas redondezas. "Meu avô sempre falava desses pássaros. Eu mesma nunca tinha visto."

O fato é que o retorno da aranponga não é apenas uma notícia para biólogos. É um símbolo potente de que a conservação ambiental pode, sim, dar resultados. Mesmo que demore quatro décadas.

E agora? O trabalho continua. Os pesquisadores querem mapear os locais de ocorrência, estudar os hábitos e - quem sabe - garantir que as próximas gerações possam crescer ouvindo o característico "ferreiro" ecoando pelas matas de Saltinho.

Afinal, algumas lendas merecem voltar a ser realidade.