
Parece ironia do destino. Enquanto a COP30 em Belém já bateu todos os recordes de interesse — mais de 55 mil pessoas inscitas até agora —, um obstáculo bastante terreno ameaça transformar esse sucesso num pesadelo logístico. Os preços da hospedagem na capital paraense estão simplesmente estratosféricos.
Miriam Matos, que comanda a organização do megaevento climático, não esconde a preocupação. "A gente tá vendo uma procura absurda, mas os valores dos hotéis assustam", confessa ela, com aquela voz mista de entusiasmo e apreensão que só quem organiza evento grande conhece.
Entre o céu e a terra
O paradoxo é doloroso. De um lado, a maior conferência climática do planeta, discutindo o futuro da humanidade. Do outro, uma conta de hotel que parece querer financiar uma viagem à Lua. Miriam revela que já recebeu inúmeros relatos de participantes internacionais hesitantes — e o motivo é sempre o mesmo: a hospedagem cara pra burro.
"Tem gente que quer vir, mas olha os preços e desiste na hora", lamenta a presidente da COP30. E não é exagero. Alguns estabelecimentos quintuplicaram suas tarifas para o período do evento, marcado para 2025. Uma estratégia gananciosa que pode sair pela culatra, deixando quartos vazios e o evento menos diverso.
Efeito dominó preocupante
O que mais preocupa — e aqui vai minha opinião — é que isso cria um filtro econômico invisível. Só participa quem pode pagar os olhos da cara. E convenhamos, diversidade de vozes é crucial num debate sobre mudanças climáticas. Países mais pobres, comunidades tradicionais, pesquisadores com orçamentos apertados... todos essenciais, todos ameaçados por essa barreira financeira.
Miriam anda numa corda bamba. Enquanto comemora o interesse recorde, corre contra o tempo para encontrar soluções. Alternativas de hospedagem mais acessíveis estão sendo buscadas, mas a tarefa é hercúlea. A cidade simplesmente não tem infraestrutura hoteleira para absorver tanta gente de uma vez — e os que têm quartos parecem decididos a explorar ao máximo a situação.
Um alerta que vem de longe
Curiosamente, não é a primeira vez que isso acontece em eventos grandes no Pará. Lembram-se do Fórum Social Mundial? Problemas similares, embora em escala menor. A diferença é que a COP30 tem um alcance global — e os olhos do mundo inteiro estarão voltados para como Belém recebe seus visitantes.
O timing não poderia ser pior. Numa era de crise climática acelerada, precisamos justamente do contrário: mais inclusão, mais trocas, mais colaboração. E não de barreiras econômicas que excluem vozes importantes do debate.
Restam poucos meses para encontrar uma solução. Miriam e sua equipe trabalham contra o relógio, tentando convencer a rede hoteleira a ser mais razoável — ou criando alternativas criativas. Aluguéis temporários, parcerias com universidades, até mesmo acampamentos sustentáveis estão sendo considerados.
Uma coisa é certa: o sucesso da COP30 não se mede apenas pelo número de inscritos, mas pela diversidade real de participantes que conseguirão estar em Belém. E atualmente, essa diversidade está seriamente ameaçada por uma conta de hotel que mais parece uma piada de mau gosto.