
Parece piada de mau gosto, mas é a mais pura realidade: enquanto milhões de brasileiros sofrem com contas de luz cada vez mais salgadas, o Rio Grande do Norte simplesmente deixou escorrer pelo ralo uma fortuna em energia renovável. Só em setembro, o estado desperdiçou nada menos que 243 gigawatts-hora de energia eólica e solar.
Parece número de loteria, não é? Mas a verdade é que essa energia toda daria para manter 430 mil residências com luz acessa durante o mês inteiro. É como se Natal, Mossoró e Parnamirim ficassem no escuro por opção própria.
O paradoxo potiguar
O que mais corta o coração nessa história toda é que o RN é justamente um dos maiores produtores de energia limpa do país. Temos vento e sol de sobra — recursos que, diferente do petróleo, são gratuitos e não poluem. Mas eis que a conta não fecha: produzimos demais e não temos por onde escoar toda essa riqueza.
Pense bem. Enquanto isso, usinas termelétricas — aquelas que queimam combustível fóssil e custam os olhos da cara — continuam ligadas pelo Brasil afora. Alguém aqui está virando de ponta-cabeça, não acha?
Os números que doem no bolso
O estudo da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica é cristalino:
- Energia eólica: 167 GWh desperdiçados
- Energia solar: 76 GWh simplesmente perdidos
- Total: 243 GWh que poderiam ter iluminado 430 mil lares
E o pior? Setembro não foi exceção. É a regra. Desde janeiro, o desperdício acumulado já passa de 1.400 GWh. Uma verdadeira hemorragia de recursos.
Por que raios isso acontece?
Aqui é que a coisa fica ainda mais complicada. O problema não está na geração — estamos produzindo energia verde que é a inveja do país. A questão está na transmissão. As linhas que levam essa energia para onde ela é necessária simplesmente não dão conta do recado.
É como ter uma torneira gigante num copinho de café. A água até sai, mas a maior parte se perde pelo caminho.
E tem mais: quando há excesso de produção, as usinas eólicas e solares são as primeiras a serem 'desligadas' do sistema. Parece contraproducente, mas é assim que funciona a regulação atual. Quem manda são as termelétricas, mesmo sendo mais caras e poluentes.
E o consumidor, fica como?
Enquanto isso, nós, meros mortais, continuamos pagando uma das energias mais caras do mundo. A ironia é tão grande que dói. Produzimos energia barata e limpa aqui no Nordeste, mas não conseguimos usufruir dela plenamente.
E sabe o que é mais frustrante? Todo mundo perde. O meio ambiente, porque queimamos mais combustível fóssil do que precisaríamos. O bolso do consumidor, porque pagamos por energia mais cara. E o desenvolvimento do estado, porque deixamos de atrair investimentos que poderiam vir com energia abundante e barata.
Parece que estamos nadando contra a maré, não? Temos todos os ingredientes para ser potência energética, mas falta o prato principal: planejamento.
Enquanto os ventos sopram forte e o sol brilha incansável sobre o sertão, a energia que poderia transformar vidas e economias simplesmente se dissipa no ar. Uma tragédia anunciada, mês após mês.