
Imagine seu cachorro passando a vida inteira preso numa corrente, sem poder correr, brincar ou sequer buscar uma sombra num dia de sol escaldante. Pois essa realidade cruel acaba de ser banida em Sergipe — e não é exagero dizer que estamos diante de uma daquelas leis que marcam época.
O governador Fábio Mitidieri transformou em realidade um projeto que muita gente achava que nunca sairia do papel. A nova legislação, sancionada nesta quarta-feira (8), simplesmente proíbe manter cães e gatos permanentemente acorrentados ou confinados em espaços minúsculos. Uma vitória e tanto para os defensores dos animais, que há anos lutavam por isso.
O que muda na prática?
Bom, a coisa é bem específica — e isso é ótimo. A lei estabelece que os bichinhos não podem ficar presos por mais de duas horas seguidas durante o dia. À noite, a regra é ainda mais rígida: nada de correntes enquanto todo mundo está dormindo. Parece óbvio, mas quantos de nós já não vimos um cachorro latindo a noite inteira porque estava preso num espaço mínimo?
E tem mais: os animais precisam ter acesso a áreas cobertas, protegidas do sol e da chuva. Água fresca e comida de qualidade também são obrigatórias — coisas que, convenhamos, deveriam ser básicas, mas muita gente ainda ignora.
E quem descumprir?
Aqui vem a parte interessante. A lei prevê multas que podem chegar a R$ 5 mil — valores que dobram em caso de reincidência. Mas o mais inteligente é que as autoridades vão focar primeiro na educação: os tutores receberão orientações antes de qualquer punição. A ideia é conscientizar, não apenas multar.
"É uma conquista monumental", disse uma protetora animal que preferiu não se identificar. "Já resgatamos cães com coleiras encravadas no pescoço, animais que nunca tinham pisado na grama... Isso vai mudar vidas."
Curiosamente, a proposta nasceu de um estudante do ensino médio durante um programa da Assembleia Legislativa. Quem diria — às vezes as melhores ideias vêm justamente de quem ainda acredita que pode mudar o mundo.
O que especialistas pensam
Veterinários ouvidos pela reportagem — embora cautelosos — comemoram em particular. "Correntes causam problemas físicos e psicológicos irreversíveis", explica um profissional com 15 anos de experiência. "O animal desenvolve ansiedade, agressividade, lesões na pele... É uma tortura silenciosa."
O timing não poderia ser melhor. Num momento em que o Brasil discute cada vez mais direitos animais, Sergipe sai na frente — e coloca a pressão em outros estados. Resta saber quantos vão seguir o exemplo.
Enquanto isso, nas ruas de Aracaju, alguns tutores já comemoram. "Meu Thor vai poder correr livre no quintal", diz uma moradora do Jardins enquanto acaricia seu labrador. "Ele merece isso."
E merece mesmo. No fundo, a lei trata de algo simples: reconhecer que esses seres não são objetos, mas companheiros que sentem dor, frio, solidão — e que merecem, no mínimo, o direito de viver com dignidade.