
Parece coisa de filme de terror, mas é pura realidade: uma nuvem tóxica que silenciou o zumbido da vida. Em 2021, no interior paulista, uma operação de pulverização aérea transformou campos floridos em cemitérios de abelhas. E não foi um acidente qualquer — foi negligência pura.
A Justiça de Ribeirão Preto não teve dúvidas. Condenou a Usina Jardinópolis a pagar uma indenização de R$ 3 milhões por danos morais coletivos. Três milhões! Sabe o que isso significa? É um recado claro: a vida dos polinizadores não tem preço, mas quem a destrói tem que pagar caro.
O dia em que o zumbido parou
Tudo aconteceu num raio de 3 quilômetros. Os funcionários da usina, lá pelos lados da Fazenda Santo Antônio da Bela Vista, resolveriam pulverizar canaviais com um coquetel de venenos. Fipronil e malation, pra ser exato. Dois produtos que, juntos, viram uma arma letal contra insetos.
O problema? Eles fizeram isso de qualquer jeito. Vento forte, horário errado, próximo a apiários… Tudo que não se deve fazer. O resultado foi catastrófico. Abelhas mortas aos milhares — um verdadeiro genocídio ambiental.
Reação em cadeia
Os apicultores da região ficaram desolados. Não foi só prejuízo financeiro, foi ver anos de trabalho indo pro ralo. “Parecia um tapete de corpos”, contou um deles, ainda emocionado. As colmeias simplesmente entraram em colapso.
E olha, o estrago não parou aí. Abelhas são como motoristas de entrega da natureza. Sem elas, as plantações da região sofreram. Menos polinização, menos frutos, menos vida. Uma cadeia inteira prejudicada por uma decisão irresponsável.
O processo judicial: uma vitória com gosto de mel
O Ministério Público entrou com ação, é claro. E a juíza Gabriela Marques Ribeiro Cortez foi enfática: a usina agiu com “culpa incontestável”. A pulverização foi feita de forma “irregular, perigosa e danosa”. Ponto final.
A defesa tentou argumentar que seguiu as regras… Mas as evidências eram esmagadoras. Laudos técnicos, fotos, depoimentos — tudo indicava que o desastre era previsível. E evitável.
O valor da indenização
Os R$ 3 milhões vão para o Fundo Estadual de Defesa de Direitos Difusos. Ou seja, o dinheiro será reinvestido em projetos ambientais. É como se a própria natureza fosse reparada pelo estrago.
Além disso, a usina terá que implementar um programa de monitoramento de apiários na região. Algo que, convenhamos, deveria ser padrão desde o início.
O caso de Jardinópolis não é isolado. É sintoma de um problema maior: a convivência entre agricultura intensiva e preservação ambiental. Como produzir sem destruir? Como crescer sem envenenar?
Essa condenação é um marco. Mostra que a Justiça está de olho — e que o zumbido das abelhas, por mais fraco que seja, pode ecoar nos tribunais. Resta saber se outras empresas vão aprender a lição.
Porque no fim das contas, sem abelhas, não tem comida. E aí, meu amigo, o prejuízo será de todo mundo.