Tecnologia amazônica revoluciona previsão de secas e enchentes
Uma inovação tecnológica desenvolvida no coração da Amazônia está transformando a forma como se prevê o comportamento dos rios da região. Pesquisadores da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) criaram um sistema de inteligência artificial capaz de antecipar o nível das águas com até 30 dias de antecedência, oferecendo um instrumento vital para comunidades e autoridades enfrentarem períodos de seca e cheia.
Como funciona a inteligência artificial dos rios
O sistema utiliza redes neurais artificiais, tecnologia inspirada no funcionamento do cérebro humano, para analisar e aprender com dados históricos dos rios amazônicos. Desenvolvido no Laboratório de Modelagem do Sistema Climático Terrestre (LabClim) da UEA, o modelo processa informações sobre cotas fluviais, índices pluviométricos e outros fatores hidrológicos.
Diogo Gomes dos Santos, estudante de Engenharia de Computação e responsável pelo desenvolvimento do projeto, explica que "a rede neural funciona processando informações como cotas e índices de chuva, aprendendo progressivamente o comportamento do rio através dos dados históricos".
Durante os testes, foram comparados dois tipos de redes neurais: Multilayer Perceptron (MLP) e Long Short-Term Memory (LSTM), com o objetivo de avaliar a performance e precisão de cada modelo. O sistema alcança uma margem de erro inferior a 2%, considerada excepcional para a complexidade dos fenômenos naturais da região amazônica.
Aplicações práticas e expansão do sistema
Os resultados das previsões já estão sendo utilizados pelo governo do Amazonas em boletins e relatórios oficiais. Órgãos de gestão ambiental, logística e defesa civil utilizam essas informações para se prepararem antecipadamente para eventos extremos, beneficiando desde o transporte fluvial até o abastecimento de comunidades ribeirinhas.
Francis Wagner, doutor em meteorologia e coordenador do LabClim, destaca que "é uma inteligência artificial criada dentro da UEA, no Amazonas, com potencial de apoiar tanto o poder público quanto o setor privado, contribuindo para o planejamento da logística, transporte, agricultura e ações emergenciais".
Inicialmente aplicado ao Rio Negro, em Manaus, o sistema está sendo expandido para outras bacias hidrográficas importantes, incluindo os rios Madeira, Solimões e Amazonas. A equipe multidisciplinar do laboratório, composta por meteorologistas e geólogos, trabalha continuamente na coleta e atualização dos dados.
Futuro acessível para todos
Nos próximos meses, a equipe prepara o lançamento de um aplicativo próprio que disponibilizará informações em tempo real sobre chuva, temperatura e nível dos rios. A ferramenta permitirá que qualquer pessoa, de gestores públicos a ribeirinhos, acompanhe as previsões diretamente pelo celular.
Atualmente, as previsões são divulgadas a cada 15 dias através de boletins disponíveis no site e nas redes sociais do LabClim. A iniciativa representa um avanço significativo na ciência produzida na Amazônia para enfrentar desafios regionais, especialmente diante das mudanças climáticas e da intensificação de fenômenos como El Niño e La Niña.
Como resume o professor Francis: "É uma tecnologia feita aqui, por gente daqui, voltada para resolver problemas do nosso território", reforçando o DNA amazônico dessa inovação que promete salvar vidas e reduzir prejuízos ambientais e econônicos.