
Belém se transformou, mesmo que por alguns dias, no epicentro do debate sobre o futuro da Amazônia. E olha, não foi um daqueles eventos burocráticos que a gente já conhece de cor. A coisa foi séria, com ministros de peso do governo Lula ocupando a mesa para falar de um tema que, convenhamos, nunca foi tão urgente.
O que está em jogo? Basicamente, como desenvolver a região sem repetir os erros do passado. Parece óbvio, mas na prática é um desafio dos grandes.
Um novo olhar sobre a floresta
O ministro dos Povos Indígenas, Joenia Wapichana, foi direto ao ponto. Ela defendeu com unhas e dentes que as comunidades tradicionais não são obstáculo ao desenvolvimento — muito pelo contrário. "São guardiões do conhecimento ancestral que pode nos salvar", disparou. E faz sentido, não faz? Quem melhor para ensinar como viver em harmonia com a floresta do que quem nunca soube viver de outra forma?
Já o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, trouxe para a mesa uma perspectiva prática. Ele falou de algo que muitos ainda teimam em ver como contraditório: produção agrícola robusta convivendo em paz com a floresta em pé. "O agronegócio do futuro é aquele que entende que desmatamento zero não é slogan, é necessidade econômica", afirmou.
Integração que faz a diferença
O mais interessante — e raro, diga-se de passagem — foi ver como os discursos se complementavam. Em vez daquela velha história de cada um puxando a brasa para sua sardinha, os ministros apresentaram uma visão coesa. Sinal dos tempos? Esperamos que sim.
Silvio Almeida, da pasta dos Direitos Humanos, foi enfático: "Não existe sustentabilidade onde há fome e desigualdade". Simples assim. E profundo. A fala dele ecoou pelo auditório deixando claro que o tal desenvolvimento sustentável precisa ser, antes de tudo, social.
Enquanto isso, Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência, conectou os pontos entre participação popular e políticas efetivas. "As soluções nascem do chão da floresta, não de escritórios com ar-condicionado", filosofou. E cá entre nós, ele tem toda a razão.
O Pará como laboratório
Belém não foi escolhida por acaso. O estado vive na pele os dilemas entre exploração e conservação. E os números são eloquentes: mesmo sendo um dos que mais desmata, o Pará também abriga experiências inovadoras de economia verde que merecem ser replicadas.
Os ministros pareciam conscientes do simbolismo do local. Havia no ar aquela sensação de que, se o modelo der certo aqui, pode servir de exemplo para toda a Pan-Amazônia. E olha, a aposta é alta.
O desafio da implementação
Agora, entre o discurso e a prática existe um abismo que todos conhecem. As falas foram inspiradoras, sem dúvida. Mas a plateia — formada por especialistas, lideranças locais e representantes de movimentos sociais — parecia cautelosa. Já viram muitos planos bonitos naufragarem na realidade complexa da região.
Resta saber se desta vez será diferente. O governo insiste que sim. A sociedade civil observa. E a floresta, essa sempre espera.
Uma coisa é certa: o debate em Belém mostrou que pelo menos a intenção existe. E num país onde o tema ambiental foi tratado com desdém nos últimos anos, isso já é um avanço considerável. Resta transformar as boas intenções em resultados concretos — e rápido, porque o relógio da Amazônia não para.