
Quem diria que um punhado de tábuas iria se tornar a salvação de tantas pessoas? No interior do Rio Grande do Sul, uma cena que parece saída de um filme pós-apocalíptico virou rotina: moradores cruzando um rio em tábuas improvisadas. E não é por diversão.
Mais de 12 meses se passaram desde que a força das águas levou embora a ponte que ligava duas cidades gaúchas. Enquanto a reconstrução oficial não sai do papel — ou melhor, das promessas políticas — a população arregaçou as mangas.
"É assustador, mas não temos escolha"
"Todo dia é um susto diferente", conta Dona Marli, 58 anos, enquanto equilibra sacolas de compras na travessia. "Quando chove, vira um circo. Mas como vou deixar de trabalhar?"
A solução caseira, que mais parece uma instalação artística de protesto, consiste em:
- Tábuas de madeira irregular (algumas até com pregos sobressalentes)
- Cabos de aço amarrados "no olhômetro"
- Uma dose generosa de coragem local
Os motoqueiros são os que mais sofrem. "Já virou esporte radical", brinca — ou não — o entregador Tiago. "Tem que passar devagar, rezando pra tábua não ceder."
O lado político da tragédia
Enquanto isso, no mundo real (ou melhor, no mundo burocrático), a nova ponte prometida "para ontem" continua no estágio de:
- Projetos sendo revisados
- Licitações "em fase final"
- Verbas que "estão chegando"
"É revoltante", desabafa o comerciante Jonas. "Quando era eleição, todo mundo vinha tirar foto aqui. Agora? Nem um 'bom dia'."
E você, atravessaria essa passarela improvisada para chegar ao trabalho? Enquanto refletimos sobre isso, famílias inteiras seguem arriscando a vida diariamente. Porque quando o poder público falha, o povo inventa — mesmo que de forma precária.