
Era uma tarde como qualquer outra na pacata Urucuia, até que o rio — normalmente sinônimo de vida — decidiu cobrar seu preço. Os bombeiros, esses heróis de coturno encharcado, finalmente puseram um ponto final na angústia que consumia a família: encontraram o corpo do homem que desapareceu nas águas traiçoeiras do córrego São Miguel.
Três dias. Setenta e duas horas de buscas que pareciam uma agonia em câmera lenta. "A gente sabia que as chances diminuíam a cada hora", confessou um dos soldados, com a voz embargada pela fadiga e pela poeira vermelha do cerrado.
O rio que virou vilão
Testemunhas contam que a vítima — um trabalhador rural de 42 anos — tentava atravessar o leito quando a correnteza, reforçada pelas chuvas recentes, mostrou suas garras. "Ele conhecia aquele rio como a palma da mão, mas a natureza não perdoa", lamentou um vizinho, esmagando o chapéu de palha entre as mãos calejadas.
Os detalhes são de cortar o coração:
- Equipes usaram botes e cordas em áreas de difícil acesso
- Moradores improvisaram buscas nas margens antes da chegada dos profissionais
- O corpo foi encontrado a 2 km do local do desaparecimento
Não foi a primeira vez que o São Miguel cobrou seu tributo — e dificilmente será a última. "Essa época de chuvas transforma até riacho em armadilha", explicou o capitão dos bombeiros, enquanto secava o suor da testa com a manga do uniforme.
O que falta para evitar novas tragédias?
Enquanto isso, na pracinha da cidade, o assunto dominava as rodas de café. "Devia ter placa de aviso", opinava Dona Maria, equilibrando o neto no colo. "Ou ponte, que é pra acabar com essa história de atravessar no braço."
O caso acendeu o debate sobre segurança nas áreas rurais — onde o asfalto acaba, mas os perigos continuam. A prefeitura prometeu "analisar medidas", mas os moradores já conhecem bem o ritmo lento das mudanças.
Para a família, resta agora o consolo impossível dos rituais de despedida. O rio devolveu o corpo, mas levou embora a tranquilidade de quem ficou.