
O céu escureceu de repente sobre Goiânia naquela segunda-feira, como se o mundo estivesse prestes a virar de cabeça para baixo. E para uma família, virou mesmo.
Kayque Ferreira da Silva, só 17 anos — uma idade em que a vida mal começou — pegou seu celular com aquela pressa típica de adolescente. A chuva caía com uma fúria rara, daquelas que parecem querer levar tudo pela frente. Ele gravou um vídeo rápido para a diretora da escola: "Tô me atrasando por causa dessa chuva desgramada".
Mal sabia ele que essas seriam praticamente suas últimas palavras.
Os minutos finais
O que aconteceu depois é daquelas coisas que a gente nunca imagina que vai ler. Não deu nem tempo do vídeo esfriar no celular. Kayque seguia pela Rua 19, no Conjunto Itatiaia — um trajeto que ele certamente já tinha feito centenas de vezes — quando o inesperado aconteceu.
Uma fiação elétrica, provavelmente atingida pela força da tempestade, caiu. E o jovem, que minutos antes se preocupava em avisar sobre seu atraso, levou um choque violento. Daqueles que não dão chance.
A corrida contra o tempo
Os bombeiros chegaram rápido, até. Mas quando a vida decide sair, nem sempre a velocidade é suficiente. Levaram Kayque para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), mas era tarde demais. O laudo do IML confirmou o que todos já temiam: morte por choque elétrico.
E pensar que ele só queria chegar na escola. Só queria cumprir com sua obrigação de estudante.
O que fica
A Secretaria de Educação de Goiás emitiu uma nota — daquelas formais que tentam amenizar o inamenizável. Dizem que estão prestando apoio à família e aos colegas. Mas como apoiar uma mãe que perdeu seu filho de 17 anos? Como explicar que um fio solto pode custar uma vida inteira?
O temporal daquele dia já passou, as ruas secaram. Mas na casa dos Silva, a tempestade nunca vai embora. E aquele vídeo, gravado com a ingenuidade de quem acha que o perigo está longe, ficou como testemunha muda de uma tragédia que poderia — deveria — ter sido evitada.
Às vezes, a vida é assim: cruel, imprevisível, e profundamente injusta. E a gente fica aqui, sem saber muito bem o que dizer, exceto que Goiânia perdeu um jovem demais, cedo demais.