Justiça Concede R$ 450 Mil a Família de Sophia Após Negligência do Poder Público em MS
Família de Sophia recebe R$ 450 mil por negligência

O silêncio no tribunal era quase palpável quando o juiz proferiu a sentença. Uma daquelas decisões que marcam época, sabe? Após uma verdadeira via crucis judicial que se arrastou por anos, a família de Sophia Rodrigues Mendonça finalmente obteve um veredicto favorável — e histórico.

O caso, que comoveu Campo Grande, rendeu uma indenização de R$ 450 mil contra o Estado de Mato Grosso do Sul e o Município. A quantia, aprovada pela 2ª Vara da Fazenda Pública, representa um raro momento de justiça sendo feita, ainda que tardia.

O que de fato aconteceu naquela tarde fatídica

Voltemos a 2019. Sophia tinha apenas quatro anos — idade de brincar, sorrir, descobrir o mundo. Uma queda aparentemente banal durante uma atividade escolar desencadeou uma sequência de eventos que ninguém poderia prever.

O primeiro socorro veio da UPA do Jardim Canguru. Mas eis o problema: lá, simplesmente não havia pediatra. Imagine a angústia dos pais! Uma criança pequena, assustada, dolorida, e nenhum especialista para avaliá-la adequadamente.

Transferiram-na então para a UPA do Vila Almeida. O desespero aumentava a cada minuto. E adivinhem? Lá também, o mesmo vazio profissional — nenhum pediatra disponível.

Uma espera que custou caro

As horas passavam. Sophia, que reclamava de fortes dores de cabeça, foi finalmente levada ao Hospital Municipal da Vila Almeida. Só então, com a situação já crítica, conseguiram transferi-la para o Hospital Universitário.

Mas o tempo — esse inimigo silencioso da medicina — já havia trabalhado contra ela. O diagnóstico final: traumatismo craniano. Sophia não resistiu.

O que mais corta o coração nessa história toda? A constatação do laudo pericial: se houvesse atendimento pediátrico especializado desde o início, muito provavelmente a criança teria sobrevivido. Uma morte evitável, essa é a dura verdade.

O longo caminho até a sentença

A família, é claro, não se conformou. Movida por uma dor que só quem perde um filho consegue entender, entrou na Justiça. A ação alegava — com toda a razão — que a ausência de pediatras nas UPAs configurava negligência grave.

E o juiz Carlos Eduardo Contar não teve dúvidas: a demora de mais de cinco horas para o atendimento adequado violou frontalmente o direito fundamental à saúde e, pior ainda, à própria vida.

A defesa do Estado e do Município tentou, como era esperado, argumentar que fizeram o possível dentro das limitações. Mas a realidade é cruel: quando se trata de saúde pública, "fazer o possível" muitas vezes não é suficiente.

O valor da indenização

Os R$ 450 mil serão divididos assim:

  • R$ 200 mil para danos morais
  • R$ 250 mil para danos estéticos e à vida

Dinheiro algum, é claro, traz de volta uma filha. Mas representa um reconhecimento — ainda que simbólico — do erro cometido.

O caso de Sophia expõe uma ferida que sangra em muitos cantos do Brasil: a precariedade do atendimento de emergência pediátrica. Quantas outras crianças estão sob risco neste momento? A pergunta fica no ar, ecoando na consciência de todos nós.