
Imagine um aeroporto internacional. Agora imagine o silêncio. Não aquele silêncio breve entre um pouso e uma decolagem, mas um vácuo completo, que já dura seis longos meses. Essa é a realidade crua do Aeroporto Internacional de Parnaíba, no Piauí, que carrega com orgulho – e uma ponta de ironia amarga – o nome de uma das maiores cientistas do país, Niède Guidon.
A situação é, no mínimo, curiosa. Um equipamento desse porte, moderno e com capacidade para receber grandes aeronaves, simplesmente… parou. A última vez que um voo comercial decolou dali foi em março. Desde então, nada. O silêncio nas salas de embarque é quebrado apenas pelo eco dos próprios passos.
O que levou ao colapso?
O cerne da questão, como quase tudo no Brasil, parece ser uma teia complexa de fatores. A Gol, que era a única companhia a operar uma rota comercial no terminal (a ponte aérea para Brasília), simplesmente encerrou as atividades. E pronto. Ficou um vazio. A justificativa? A velha conhecida de todos: a rota não era economicamente viável. A procura não justificava a operação.
Mas espera aí. Será que é só isso? Especialistas em aviação que acompanham o caso soltam um suspiro profundo antes de responder. Eles apontam que a falta de um planejamento regional robusto para fomentar rotas é um problema crônico. Não adianta ter uma pista fantástica se não há uma estratégia para conectá-la ao mundo. É como ter um carro de fórmula 1… sem gasolina e sem piloto.
E o poder público? O que diz?
Ah, o poder público. A Secretaria de Estado da Juventude e do Esporte – que, pasme, é a pasta que responde pela aviação civil no estado – emitiu uma nota. O texto fala em "discussões avançadas" com outras companhias aéreas para retomar as operações. Soa familiar, não? É aquele linguajar típico de gestão, cheio de promessas que a gente já ouviu tantas vezes que até perdeu a conta.
Enquanto as "discussões avançadas" não saem do papel, o prejuízo é real. Comercial, logístico e, claro, de imagem. O Piauí, que investiu pesado para ter uma porta de entrada internacional, vê essa porta fechada a sete chaves.
E Niède Guidon? O que ela diria?
É impossível não pensar na homenageada. Niède Guidon, uma mulher à frente do seu tempo, que desbravou o sertão e revolucionou a arqueologia mundial com suas descobertas no Parque Nacional Serra da Capivara. Dar seu nome ao aeroporto era um símbolo potente, uma forma de conectar a grandiosidade do passado ao potencial do futuro.
Mas o futuro, pelo visto, demorou a chegar. E o símbolo hoje parece mais um lembrete de um potencial desperdiçado. Uma pena. Ela, com sua coragem e determinação, certamente não ficaria parada esperando as "discussões avançadas". Provavelmente já estaria batendo na porta de alguém, exigindo soluções.
O fato é que o aeroporto está lá. Parado. Esperando. A pergunta que não quer calar é: quando o silêncio vai ser quebrado pelo rugido de um turbina?