Jovem de 19 anos morre atacado por leoa após invadir jaula em zoológico de João Pessoa
Homem morto por leoa ao invadir jaula em zoológico da PB

Um jovem de 19 anos morreu após ser atacado por uma leoa no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, conhecido como Bica, em João Pessoa, na Paraíba. O incidente ocorreu no domingo, 30 de novembro, quando Gerson de Melo Machado invadiu o recinto do animal, escalando grades e usando uma árvore como apoio.

Falha coletiva e histórico de negligência

A conselheira tutelar Verônica Oliveira, que conhecia Gerson há nove anos, descreve a morte como "a última etapa de uma tragédia anunciada". Para ela, o caso simboliza uma falha do Estado, da sociedade e da rede de proteção. "Ele era muito mais do que o vídeo do parque. Era um menino abandonado, adoecido, negligenciado por todo o sistema", lamentou.

Verônica relatou que, somente na segunda-feira, 1º de dezembro, saiu uma decisão judicial para internação do jovem. Durante anos, tentativas de conseguir um laudo e tratamento adequado esbarraram na avaliação de que seus problemas eram apenas comportamentais. Um laudo psiquiátrico de 2023, no entanto, descrevia "comportamento disjuntivo", "impulsividade" e orientava tratamento multidisciplinar integral.

Trajetória de abandono e sonho de domar felinos

Gerson chegou ao Conselho Tutelar pela primeira vez aos 10 anos, após ser encontrado sozinho em uma rodovia. Sua mãe, com esquizofrenia acentuada, havia perdido o poder familiar. Enquanto quatro irmãos foram adotados, Gerson permaneceu em instituições de acolhimento, sempre desejando voltar para a mãe.

O jovem nutria um antigo sonho: domar leões. Há dois anos, invadiu o trem de pouso de um avião no aeroporto local porque queria "ir à África, para o safári". Verônica acredita que, no momento do ataque, ele não compreendeu o perigo. "Ele achou que não ia ter problema nenhum. Tentou descer para brincar com ela", analisou, baseando-se nos vídeos do ocorrido.

Passagem pelo sistema e pedido de ajuda

Dos 12 aos 18 anos, Gerson foi apreendido dez vezes. Ao completar a maioridade, perdeu o direito ao acolhimento e chegou a dizer que arrumaria um jeito de ir para a prisão, "onde ele tinha comida, rotina, proteção". Passou seis vezes pelo sistema prisional por atos impulsivos.

Uma semana antes da tragédia, no dia 25 de novembro, Gerson procurou o Conselho Tutelar pedindo ajuda para tirar documentos e conseguir uma carteira de trabalho. Não obteve sucesso.

Respostas das autoridades e situação da leoa

A Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa afirmou manter uma rede de saúde mental estruturada, com porta de entrada pela Atenção Básica. Janaina D'Emery, diretora do Centro de Atenção Psicossocial que acompanhava Gerson após os 18 anos, disse que ele tinha dificuldade de aderir ao tratamento e desaparecia por períodos.

O Ministério Público da Paraíba abriu investigação para acompanhar as medidas adotadas após a morte. A prefeitura informou que o jovem agiu de forma rápida e surpreendente, e a perícia avalia a possibilidade de ato suicida.

Quanto à leoa, chamada Leona, a prefeitura afirmou que ela não será sacrificada. O animal, que tem 19 anos e nasceu no zoológico, está saudável, recebendo cuidados e sob observação após o elevado nível de estresse. O parque permanece fechado até o fim das investigações.

Gerson foi sepultado na tarde da segunda-feira, 1º de dezembro, no Cemitério do Cristo, em João Pessoa.