
Era uma manhã como qualquer outra para José Carlos da Silva, 58 anos — até que o rio decidiu mostrar sua face mais cruel. Na última quinta-feira, aquelas águas que ele conhecia como a palma da sua mão viraram contra ele, engolindo sua embarcação num piscar de olhos. Três dias. Setenta e duas horas de angústia que pareceram uma eternidade para a família.
O silêncio que se seguiu ao acidente foi quebrado apenas pelo barulho dos motores dos barcos de busca e pelas preces surdas dos que esperavam na margem. Homens do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar e até gente da comunidade — todos unidos num mesmo propósito: trazer José de volta.
O momento do encontro
Foi por volta das 10h30 deste sábado que o impensável aconteceu. Uma mancha escura nas águas barrentas, um suspense que cortou o coração de todos presentes. E então, a confirmação: era ele. O corpo do pescador foi localizado a aproximadamente 2,5 km do local do acidente, perto da Ponte do Bairro Água Branca, em Macatuba.
— A gente não queria acreditar — conta um primo do desaparecido, com a voz embargada. — Mas pelo menos podemos levá-lo para descansar em paz.
As circunstâncias do acidente
Testemunhas disseram que o tempo fechou de repente naquela quinta-feira. O vento ficou mais forte, as águas — normalmente calmas — se agitaram com uma fúria incomum. José, experiente como era, talvez não tenha percebido a hora exata em que o rio deixou de ser seu aliado para se tornar seu algoz.
O barco, pequeno e já bastante usado, não resistiu à fúria das águas. Virou num instante, deixando o pescador à mercê da correnteza. Alguns dizem que ouviram um grito abafado pelo barulho do vento, mas ninguém pode afirmar com certeza.
Operação de resgate: uma corrida contra o tempo
Logo que o desaparecimento foi comunicado, uma verdadeira força-tarefa se formou. Bombeiros de Macatuba e de cidades vizinhas, policiais militares, voluntários — todos se uniram numa operação que lembrava uma agulha no palheiro. Buscas terrestres, fluviais, até drones foram usados na tentativa de localizar José.
— As condições do rio não facilitaram — admitiu um dos bombeiros envolvidos nas buscas. — A turbidez da água, a correnteza… tudo conspirava contra nós.
Mas não desistiram. Como poderiam? Enquanto houvesse esperança, continuariam procurando. E neste sábado, finalmente, encontraram.
O que fica
José Carlos deixa uma esposa, três filhos e cinco netos que o esperavam em casa com a mesa posta. Deixa também um alerta para todos que dependem do rio para seu sustento: as águas podem ser generosas, mas seu humor é instável como o vento.
O corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal de Macatuba, onde será realizada a necropsia. Depois, finalmente, José poderá descansar — longe das águas turbulentas que o levaram.