
O silêncio na casa da família Soares Martins, no Setor Negrão de Lima, em Goiânia, é tão pesado que quase dá pra tocar. Faz um mês que Kauan Gabriel partiu — tinha apenas 21 anos — e o vazio que ficou é daqueles que não dá pra descrever com palavras fáceis.
"A gente vive de saudade agora", diz a mãe, Rosimeire Soares, com aquela voz embargada que quem já perdeu alguém conhece bem. "É como se tivessem arrancado um pedaço da gente."
O que aconteceu naquela noite fatídica
Tudo mudou na madrugada do dia 15 de setembro, por volta das 2h30. Kauan estava de carona num HB20 — dirigido por Sarah Emanuelle, filha do vereador Professor Zé — quando o carro simplesmente saiu da pista na GO-070, perto do viaduto do Atalaia. O impacto foi brutal.
Testemunhas contam que o carro capotou várias vezes antes de parar. Kauan, que não usava cinto de segurança, foi arremessado. Não resistiu. Sarah, que estava com o cinto, sobreviveu — mas com ferimentos que exigem acompanhamento até hoje.
O que diz a polícia — e o que não diz
O relatório policial é seco, técnico, como sempre são. Diz que Sarah perdeu o controle do veículo. Mas não explica o porquê. Velocidade? Sono? Alcool? O inquérito corre em sigilo, e a família de Kauan fica no escuro, tentando juntar os pedaços do quebra-cabeça.
O que se sabe é que Sarah já prestou depoimento. E que o exame de dosagem alcoólica — pasmem — não foi feito. Uma falha que deixa a família ainda mais angustiada.
A vida que ficou pela metade
Kauan trabalhava com o pai, Sebastião Martins, de 54 anos, numa fábrica de ração. Era o braço direito do velho, o futuro da família. "Ele era meu companheiro de trabalho, meu amigo, meu tudo", desabafa o pai, com aquela dor que só quem cria um filho entende.
Os irmãos mais novos — um de 12, outro de 16 — ainda não entenderam direito a falta que o irmão faz. Choram escondido, perguntam quando ele volta. A casa, que antes era cheia de risadas, agora é um lugar de memórias e fotos.
Do outro lado: o silêncio que dói
A família do vereador Professor Zé — que, diga-se de passagem, nem se deu ao trabalho de aparecer pessoalmente — mandou um assessor dar os pêsames. Só. Nenhum apoio, nenhuma ajuda, nenhuma palavra de solidariedade verdadeira.
Sarah segue se recuperando em casa. A defesa dela, é claro, já entrou com pedido para que ela responda em liberdade. Enquanto isso, a família de Kauan se vira como pode pra pagar as contas — Sebastião tá sem conseguir trabalhar direito, a depressão bateu forte.
É triste pensar que a justiça, às vezes, parece ser mais rápida e mais gentil com uns do que com outros. Kauan se foi, Sarah se recupera, a família chora. E a vida, essa danada, segue — mesmo quando a gente acha que não tem como.