O fim de ano é um período propício para olhar adiante e tentar desvendar os caminhos que o amanhã pode tomar. Em um exercício fascinante de futurologia, a consultoria global Capgemini, através do olhar do seu gerente sênior de Narrativas Futuras, o futurista Mateus Oazem, projetou nove macrotendências de inteligência artificial e tecnologia que devem definir o ano de 2026. O relatório, publicado em 30 de dezembro de 2025, vai muito além da automação básica, desenhando um cenário onde algoritmos aconselham, ecossistemas sintéticos coexistem conosco e a capacidade de imaginar futuros se torna uma habilidade crítica.
Algoritmos conselheiros e a automação contextual
Uma das transformações mais profundas apontadas por Oazem é a ascensão dos algoritmos a posições de conselho. Em vez de serem meras ferramentas, eles passam a constituir uma camada sintética de análise para decisões complexas. Governos, corporações e até processos eleitorais começam a incorporar sistemas que simulam cenários, preveem resultados e oferecem recomendações baseadas em dados em tempo real.
No cotidiano, isso se materializa quando escolhas antes puramente subjetivas passam a vir acompanhadas da indicação “o sistema recomenda”. Paralelamente, a automação evolui para um novo patamar. Ela deixa de executar tarefas isoladas e passa a interpretar contextos, tomar decisões sequenciais e agir de forma autônoma. O papel humano migra da execução para a supervisão, correção e o enfrentamento dos dilemas éticos que surgem dessa nova dinâmica.
Personas sintéticas e o corpo como plataforma
As organizações passarão a se comunicar conosco através de personas relacionáveis. Avatares, bots e identidades sintéticas assumirão os papéis de atendimento, marketing e até liderança, encarnando digitalmente instituições que antes eram abstratas. A influenciadora virtual Lu, do Magalu, é um precursor claro dessa tendência, que borra deliberadamente as fronteiras entre marca, pessoa e personagem.
Outra mudança radical será a integração da tecnologia ao corpo humano. Dispositivos como sensores de saúde, chips, fones com tradução simultânea e equipamentos de suporte físico inauguram uma era de “augmentação” permanente. O monitoramento contínuo da saúde e a promessa de desempenho ampliado trazem à tona debates urgentes sobre privacidade e sobre quem controla os dados gerados por nossos próprios corpos.
Materiais do futuro e a obrigatoriedade da sustentabilidade
A inteligência artificial também revolucionará a criação de materiais. Combinando simulação computacional e biologia sintética, a IA projetará matérias-primas “impossíveis”, como tecidos inteligentes, biocomponentes autorreparáveis e novos compostos que transformarão setores como construção e energia. O impacto chegará ao consumidor final na forma de produtos mais leves, duráveis e eficientes.
O relatório é enfático ao afirmar que a sustentabilidade e a crise climática se tornam preocupações obrigatórias e inadiáveis. As cadeias produtivas terão que ser redesenhadas, e conceitos como o crime contra as gerações futuras podem ganhar força jurídica. Isso se traduzirá em pressão social por responsabilidade real, maior transparência e mudanças na oferta e nos preços dos produtos.
Adaptação contínua: a maior competência do futuro
O mundo projetado para 2026 será moldado não apenas pela IA, mas pela convergência de várias tecnologias exponenciais, como robótica e computação quântica. Nesse cenário complexo e de mudança acelerada, estruturas fixas dão lugar a arranjos temporários em empresas, equipes e até relações pessoais.
Diante disso, a capacidade de imaginar futuros deixa de ser um exercício criativo e se torna uma função estratégica crucial. A vantagem competitiva estará com aqueles que dominarem a adaptação contínua, o aprendizado constante e uma leitura crítica da tecnologia, habilidades que se tornarão tão importantes quanto qualquer conhecimento técnico específico. O futuro, portanto, não será apenas vivido, mas ativamente imaginado e construído.