Solidão atinge 33% dos jovens britânicos de 16 a 29 anos, revela pesquisa
Jovens são a geração mais solitária do Reino Unido

Uma pesquisa recente revelou um dado alarmante sobre a geração mais jovem do Reino Unido: 33% dos britânicos entre 16 e 29 anos relatam sentir solidão com frequência, sempre ou às vezes. Este é o índice mais alto entre todas as faixas etárias, superando até mesmo os idosos, tradicionalmente vistos como o grupo mais isolado. Enquanto entre os maiores de 70 anos a taxa é de 17%, os jovens adultos emergem como a geração mais solitária do país.

Uma noite de Halloween e o sentimento de exclusão

A experiência de Adam Becket, de 26 anos, ilustra bem esse fenômeno. Em uma fria noite de outubro de 2021, ao voltar para casa em Bristol, ele se viu cercado por pessoas fantasiadas para festas de Halloween. "Era como estar em um outro mundo, do qual você não faz parte. E você sente que nunca vai fazer parte dele", descreve ele, que havia se mudado para a cidade por trabalho e enfrentava dificuldades para construir novas amizades. A sensação de ser o único a viver uma solidão profunda naquela noite contrastava com a realidade estatística: ele estava longe de estar sozinho nesse sentimento.

O levantamento, publicado em novembro pelo Office for National Statistics (ONS), órgão oficial de estatísticas do Reino Unido, confirma a tendência. A Organização Mundial da Saúde (OMS), ao analisar estudos de diversos países, também constatou que jovens adultos e adolescentes relatam os níveis mais elevados de solidão. A professora Andrea Wigfield, diretora do Centro de Estudos da Solidão da Sheffield Hallam University, é categórica: "Os adultos entre 18 e 24 anos são os que se sentem mais solitários, seguidos pelos idosos. É um problema crescente."

As causas da solidão na juventude moderna

Especialistas apontam uma combinação de fatores modernos para explicar por que o início da vida adulta, muitas vezes romantizado, pode ser um período de profundo isolamento.

A 'Dispersão' e a Instabilidade: A psicóloga clínica Meg Jay, autora de "The Twenty-Something Treatment", identifica a "dispersão" como um grande problema. "Todo mundo que você conheceu agora vive em um milhão de lugares diferentes", afirma. Essa fase é marcada por mudanças frequentes: sair da casa dos pais, amigos que partem e laços familiares que se enfraquecem. Para Adam Becket, reconstruir uma vida social do zero em uma nova cidade foi um desafio que gerou insegurança e autocrítica.

O Paradoxo da Moradia Compartilhada: Embora apenas 5% dos britânicos no início dos 20 anos vivam sozinhos (contra 49% dos maiores de 85 anos), dividir a casa com outras pessoas nem sempre é solução. Meg Jay alerta que conviver com colegas emocionalmente distantes pode deixar as pessoas "ainda mais solitárias" do que se morassem sozinhas.

O Colapso dos 'Terceiros Lugares': O professor Richard Weissbourd, da Universidade Harvard, resgata a tese "Jogando Boliche Sozinho", do cientista político Robert Putnam, para falar do enfraquecimento das instituições comunitárias, como igrejas e grupos locais. Zeyneb, de 23 anos, sente falta justamente desses "terceiros lugares" – espaços sociais como parques ou bibliotecas que não sejam a casa ou o trabalho. "Nós realmente não temos esse tipo de espaço para conhecer pessoas", lamenta.

O Impacto do Trabalho Remoto e das Redes Sociais: O home office, que "perdeu parte de seu encanto" para os mais jovens segundo Meg Jay, dificulta a formação de laços profissionais. Paralelamente, os britânicos de 18 a 24 anos passam, em média, seis horas e 20 minutos por dia online, de acordo com o Ofcom. As redes sociais podem amplificar a solidão através da cultura do "comparar e se desesperar", onde a vida social perfeita dos outros vira um parâmetro inatingível.

Buscando Soluções: Da Prescrição Social aos Projetos de Amizade

Diante do problema, iniciativas tentam criar pontes. David Gradon, após vivenciar a solidão no fim dos seus 20 anos em Londres, criou o "The Great Friendship Project", um grupo sem fins lucrativos que organiza eventos sociais para menores de 35 anos. "Todo mundo está no mesmo barco. E isso, na prática, derruba barreiras", explica.

No âmbito da saúde pública, o NHS (sistema público de saúde britânico) investe no modelo de prescrição social, onde médicos encaminham pacientes para atividades comunitárias, como aulas de arte. Mais de um milhão de pessoas foram encaminhadas em 2023. No entanto, a infraestrutura é desigual. "Isso realmente vira uma loteria, dependendo de onde você mora", avalia Andrea Wigfield.

Laura Cunliffe-Hall, da UK Youth, defende mais investimento em clubes e serviços para jovens até os 25 anos, já que os gastos das autoridades locais nessa área caíram 73% entre 2010/11 e 2023/24. O argumento é também econômico: a solidão crônica está ligada a processos inflamatórios e pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares e demência na velhice.

Enquanto especialistas veem sinais de esperança em uma possível reação contra o excesso de trabalho remoto e redes sociais, soluções pessoais também surgem. Para Zeyneb, o antídoto foi adotar uma gata chamada Olive. "Sem ela, eu teria me sentido muito mais sozinha", conta. A história reforça que, em um mundo moderno fragmentado, combater a solidão requer tanto políticas públicas quanto a redescoberta de conexões genuínas, sejam elas humanas ou não.