O final do ano, marcado por festas, reencontros familiares e expectativas, pode ser um período de grande tensão psicológica. Dados oficiais da Secretaria Estadual da Saúde revelam um aumento expressivo nos atendimentos por ansiedade nos meses de novembro e dezembro na região de Campinas, confirmando uma tendência que os profissionais da saúde mental já observavam na prática.
Os números da 'dezembrite'
As estatísticas são alarmantes. No último ano, os atendimentos por ansiedade na rede estadual de saúde da região de Campinas cresceram 77,9% entre novembro e dezembro, se comparados à média do restante do ano. Entre o público mais jovem, o cenário também é preocupante: crianças e adolescentes registraram um aumento de 55,6% nos casos no mesmo período.
Esse fenômeno, que ganhou até um apelido popular – 'dezembrite' –, é desencadeado por uma combinação de fatores. A pressão para cumprir metas profissionais, os gastos extras com presentes, os preparativos para viagens, as reuniões familiares e até a revisão de lembranças do ano que termina podem acionar o gatilho da ansiedade.
Pressão social e a importância dos limites
A doutora em psicologia Camila Canguçu explica que a cobrança, muitas vezes, tem origem no próprio círculo familiar e social. Ela defende a necessidade de estabelecer barreiras para preservar o bem-estar. "A gente tem muita pressão no final do ano para fazer tudo. É importante falar 'não' para coisas que dá para evitar, escolher o que é mais importante e priorizar a saúde mental", orienta a especialista.
Camila Canguçu aconselha as pessoas a serem seletivas com os compromissos, participando apenas dos eventos que realmente consideram significativos e prazerosos. A ideia é fugir da exaustão e da obrigatoriedade que costumam marcar a temporada.
Ansiedade também atinge crianças e adolescentes
O fenômeno não poupa os mais novos. A expectativa por eventos aguardados, como uma viagem de férias, pode gerar grande agitação. Nina Boiago, mãe, relata que percebeu a ansiedade crescer nos filhos por conta de uma viagem à praia marcada para janeiro. "A ansiedade está bem grande para a expectativa de como vai ser", conta ela.
Para famílias com filhos, a psicóloga Camila Canguçu, que também é especialista em desenvolvimento infantil, recomenda clareza e organização. Manter a rotina dentro do possível, especialmente os horários de sono, e dar previsibilidade às crianças são passos fundamentais. Ela sugere o uso de calendários visuais para mostrar o que vai acontecer, incluindo o fim das aulas, os dias de festa e a data da viagem.
Dicas práticas para diferentes idades
A especialista oferece orientações específicas de acordo com a faixa etária:
Para crianças pequenas:
- Crie histórias personalizadas que expliquem como serão os dias de férias, mencionando o nome da criança, o local e as atividades.
- Use fotos do destino ou busque imagens na internet para familiarizá-la com o lugar.
- Apresente uma sequência visual (com desenhos ou fotos) dos eventos que vão ocorrer.
Para crianças em idade escolar:
- Marque no calendário o último dia de aula e o dia do retorno.
- Converse sobre a saudade dos amigos, normalizando esse sentimento.
- Conte quantas semanas faltam para o reencontro com os colegas favoritos.
Para adolescentes:
- Mantenha um diálogo aberto, incentivando que expressem seus sentimentos sobre as férias, amizades e pressões escolares.
- Fique atento a sinais físicos e emocionais que possam indicar ansiedade excessiva.
- Reforce a importância de colocar os sentimentos em palavras como uma válvula de escape para as tensões.
Em resumo, o período festivo exige mais atenção à saúde psicológica. Reconhecer os sinais de ansiedade, estabelecer limites realistas e adotar estratégias para dar previsibilidade, especialmente para os jovens, são medidas essenciais para transformar o fim do ano em uma época genuinamente de descanso e renovação, e não de estresse.