
Quem nunca reclamou de uma dor de cabeça comum que atire a primeira pedra. Mas imagine uma dor tão excruciante, tão visceral, que ganhou o macabro título de "a pior dor do mundo". É contra isso que Carolina Arruda, a modelo de 31 anos, travou — e ainda trava — uma batalha diária. E, cara, que história.
Nesta quarta-feira (22), ela finalmente deixou o hospital após uma série de novas intervenções cirúrgicas. Não foi uma saída comum, com flores e sorrisos. Foi uma libertação conquistada com suor, lágrimas e uma coragem que poucos de nós sequer podemos imaginar.
O Inferno Particular de Carolina
A neuralgia do trigêmeo. O nome é complexo, mas a dor é simplesmente aterrorizante. Uma facada constante, um choque elétrico perene no rosto. Carolina descreve como se alguém estivesse constantemente "perfurando seu rosto com um ferro em brasa".
Foram mais de 15 cirurgias ao longo dessa jornada. Quinze. Cada uma delas uma aposta, um fio de esperança. A última, uma termoablação, trouxe um alívio — ainda que parcial. "Estou conseguindo me alimentar melhor, hidratar... são pequenas vitórias", conta ela, com uma voz que mistura cansaço e um resquício de otimismo.
O Tabu que Ela Decidiu Enfrentar de Frente
E aí vem a parte que realmente faz a gente parar e pensar. A dor crônica, aquele sofrimento que não dá trégua, leva a mente a lugares escuros. Carolina, com uma honestidade brutal, falou sobre eutanásia.
"É um assunto espinhoso, né? Ninguém quer falar sobre isso", reflete. "Mas quando você chega no seu limite, quando cada segundo é uma tortura, o pensamento vem. É um direito que deveríamos ter? De decidir quando chega o fim?"
Ela mesma já pediu, em momentos de desespero absoluto, que a deixassem partir. Um desabafo que choca, mas que também humaniza profundamente a discussão sobre o fim da vida. Não é mais uma teoria filosófica; é a realidade nua e crua de uma pessoa real.
A Longa Estrada (e a Falta de Acesso)
Parte da sua angústia, vale dizer, vem da demora do sistema. Carolina esperou oito longos meses por uma consulta com um especialista na rede pública. Oito meses de agonia sem fim. Só conseguiu o procedimento porque a defensoria pública entrou com um mandado de segurança. Um trâmite judicial para aliviar uma dor insuportável. Não deveria ser assim.
Ela agora segue para a reabilitação, tentando recuperar os movimentos do rosto. A dor diminuiu, mas a batalha continua. Sua luta virou um farol — um farol doloroso, mas necessário — para milhares de outros brasileiros que sofrem em silêncio com dores crônicas incapacitantes.
Carolina Arruda não quer pena. Ela quer debate. Quer avanço. Quer que sua história, por mais difícil que seja, ajude a mudar algo. E, pelo visto, ela já está conseguindo.