
Não é exagero dizer que a situação é, francamente, assustadora. Enquanto muitos discutem política macroeconômica em gabinetes com ar condicionado, a realidade nas periferias de capitais como São Luís, Macapá e Manaus pinta um retrato muito diferente—e muito mais sombrio.
Um estudo recente, daqueles que deveriam tirar o sono de qualquer gestor público, mostrou que a insegurança alimentar não é um fantasma distante. Ela bate à porta—ou melhor, arromba a porta—de milhões de lares brasileiros, com uma ferocidade particular nas regiões Norte e Nordeste.
Os Números que doem
Pense rápido: o que é pior? Passar fome ou não saber se vai passar fome amanhã? A pesquisa, feita pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, mostrou que a incerteza é uma tortura diária para muitas famílias. E olha, os dados são de cortar o coração.
Nas capitais do Norte e Nordeste, a coisa está feia. Muito feia. A gente tá falando de lares onde a proteína sumiu do prato, onde a fruta virou artigo de luxo e onde a pergunta "o que vamos comer hoje?" é respondida com um silêncio desesperador.
O Retrato de uma Crise Anunciada
Não é como se não soubéssemos que isso poderia acontecer, né? A combinação explosiva de desemprego alto, inflação nos alimentos e programas sociais com eficácia questionável criou o cenário perfeito para essa tempestade. Só que, parece, ninguém trouxe o guarda-chuva.
E não adianta vir com esse papo de que "é só uma fase". Para a mãe que dilui o leite para render mais ou para o pai que pula refeições para os filhos comerem, essa "fase" já dura muito tempo.
Além das Estatísticas: A Vida Real
Estatísticas são números. Pessoas são histórias. E as histórias que surgem desses lares falam de escolhas impossíveis: comprar remédio ou comida? Pagar a luz ou encher a despensa? São dilemas que nenhuma família deveria enfrentar.
O pior? Essa insegurança alimentar tem caras. Tem a cara da criança que vai para a escola com fome. Tem a cara do idoso que divide uma refeição insuficiente. Tem a cara do trabalhador que sobrevive com um cafézinho e um pão velho até o fim do expediente.
Um Problema com Muitos Donos (e Nenhum Dono)
Todo mundo joga a batata quente para o outro lado. O governo federal diz que estados e municípios deveriam agir mais. Os estados reclamam da falta de recursos. Os municípios alegam que não têm estrutura. E no meio dessa ciranda de responsabilidades, quem passa fome... continua passando fome.
É frustrante. É revoltante. É desumano.
E Agora? Tem Saída?
Especialistas—aqueles que realmente entendem do assunto—sugerem que não existe bala de prata. A solução passa por um conjunto de ações: desde o fortalecimento de programas de transferência de renda até políticas sérias de geração de emprego, passando pelo apoio à agricultura familiar e pela melhoria na distribuição de alimentos.
Mas talvez o primeiro passo seja o mais simples—e o mais difícil: reconhecer que o problema existe, que é grave e que não vai embora sozinho. Ignorar a fome não faz ela desaparecer. Só faz com que mais pessoas jantem... vento.
Enquanto isso, nas capitais do Norte e Nordeste, a vida segue. Com fome. Com medo. Com esperança—aquela teimosa—de que talvez amanhã a mesa esteja mais farta.