Uma nova esperança surge no horizonte para milhões de brasileiros que lutam contra o colesterol alto. Durante o encontro anual da Associação Americana do Coração, realizado em novembro de 2025, pesquisadores apresentaram resultados impressionantes de um medicamento revolucionário que pode transformar completamente o tratamento das doenças cardiovasculares.
O que é a enlicitida e como funciona
A enlicitida representa um avanço significativo na medicina cardiovascular por ser o primeiro comprimido de uso diário da família dos inibidores de PCSK9. Esta potente classe farmacológica estava disponível apenas em formato injetável até agora, sendo geralmente prescrita quando as mudanças no estilo de vida e medicamentos como as estatinas não conseguem controlar adequadamente os níveis de colesterol.
O mecanismo de ação é diferente das estatinas tradicionais. A enlicitida bloqueia uma enzima específica no fígado chamada PCSK9, o que permite reduzir significativamente os níveis de colesterol na corrente sanguínea. Atualmente, existem anticorpos monoclonais com essa mesma atuação aplicados a cada 15 dias, além de uma terapia que modula o RNA das células hepáticas administrada a cada seis meses.
Resultados impressionantes do estudo clínico
No ensaio clínico de fase 3 - a última etapa antes da possível aprovação regulatória - a enlicitida demonstrou uma eficácia extraordinária. O medicamento reduziu o colesterol LDL, conhecido como colesterol ruim, em aproximadamente 60% em adultos com altos níveis dessa gordura, quando comparado com placebo.
O endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da USP de Ribeirão Preto e coordenador científico do Diacordis, destaca que esses resultados são ainda mais significativos considerando que a quase totalidade dos participantes da pesquisa já estava em uso de alguma terapia para colesterol, incluindo estatinas. Isso significa que a redução de quase 60% no colesterol ruim ocorreu em pessoas que já utilizavam outros medicamentos para controlar a condição.
Próximos passos e expectativas
Apesar dos resultados promissores, é importante ressaltar que os estudos sobre desfechos cardiovasculares - como redução de infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs) - ainda não foram concluídos. O ensaio clínico CORALreef Outcomes envolve mais de 14.500 participantes e sua conclusão está estimada para 2029.
Segundo o especialista, a expectativa é que a nova medicação seja utilizada em pacientes com colesterol elevado que não atingem as metas desejadas, que têm dificuldade com terapias injetáveis ou que sofrem com efeitos colaterais do tratamento convencional.
Embora ainda não haja previsão de aprovação e lançamento no exterior ou no Brasil, espera-se que o custo da enlicitida seja mais acessível que o dos seus equivalentes injetáveis. A administração oral oferece a vantagem de facilitar a adesão ao tratamento, especialmente para pacientes com restrições ou aversão a injeções.
Esta descoberta marca um novo capítulo na luta contra as doenças cardiovasculares, que continuam sendo uma das principais causas de morte no Brasil e no mundo. A comunidade médica aguarda com expectativa os resultados finais do estudo para que esta nova fronteira no tratamento do colesterol possa beneficiar milhões de pacientes.